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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Reino de Álfheim

A Descoberta de Um Novo Mundo

Parte 1


     Raios de sol atravessavam partes da janela que não estavam cobertas pela cortina, e batiam diretamente no rosto de Eliel. O garoto tinha dezessete anos e dormia tranquilamente quando seu pai abre a porta do quarto e chama por ele.
     _ Eliel, está na hora. - Disse o pai do garoto aguardando ele dar o sinal de que havia acordado. - Vamos Eliel, hora de acordar para ir para escola!
     _ Quantas horas agora pai? - Disse o jovem puxando o lençol que cobria a cabeça.
     _ Agora são seis horas da manhã! - Ele concluiu fechando a porta do quarto.
     Eliel acabou de descobrir o restante do corpo e se levantou ainda sonolento. O garoto pegou uma toalha pendurada atrás da porta, saiu do quarto e foi para o banheiro. Depois de meia hora o jovem acabava de vestir a blusa do seu uniforme e se preparava para calçar os tênis.
     Lucas estava em pé na sala de estar, arrumando sua maleta. O pai do garoto se preparava para sair, quado o filho passa por ele indo direto para a cozinha.
     _ Bom dia pai.
    _ Bom dia! - Falou Lucas fechando a maleta. - O café está pronto em cima da mesa, e os ingredientes para o sanduíche estão na geladeira. - Ele seguia em direção à porta. - Cuidado para não perder a hora.
     _ Não vou me atrasar pai. - Disse Eliel pegando uma maça na fruteira. - Vou comendo essa maçã pelo caminho.
     Pai e filho saíram de casa juntos, mas cada um seguiu destinos diferentes. Lucas montou em uma moto velha e saiu apressado, enquanto Eliel seguia tranquilamente caminhando, pois a escola era próximo de sua residência.
     Eliel se aproximava da escola, quando de repente ele fica tonto e escora no corrimão da escada. O jovem seguiu diretamente para a sala de aula e assentou-se em sua carteira. Tudo transcorria tranquilamente na aula; a professora ensinava matéria nova quando uma canção estranha, em um dialeto completamente desconhecido, era transmitido pelas caixas de som instalados em todo o ambiente escolar; fez toda a turma; com exceção de Eliel; ficar paralisada; como se fossem estátuas. O garoto demorou alguns segundos para perceber que ninguém se movia, e quando ele preparava para se levantar, a porta da sala foi arrancada do lugar por um ser completamente estranho. A única reação de Eliel foi ficar parado como os demais e ficar observando o que aquele ser iria fazer. O garoto começou a reparar nos detalhes daquele estranho, e observou que ele tinha uma pele seca e áspera; os olhos e roupas eram negras como piche; o cabelo tinha a mesma cor dos olhos, mas eram muito longos e lisos, ele descia pelas costas até a cintura do indivíduo; e o mais estranho de tudo eram as orelhas pontiagudas, pareciam com as de duendes que ele vira na televisão. Aquele ser olhava por toda a sala, e começava a entrar quando outro ser; semelhante ao primeiro; se aproximou dele, e falando um dialeto semelhante ao da música que fora tocada minutos antes, fez o primeiro recuar e acompanhá-lo. O jovem ia sair do lugar para tentar descobrir o que estava acontecendo, quando ele escuta novamente o dialeto.
     _ Lorem herba.
     Um dos seres estranhos passou pela porta em uma velocidade muito grande, deixando um rastro azul brilhante por onde passara. Eliel começou a ouvir ruídos de luta, e imediatamente correu até a porta e espiou discretamente, pois tinha o receio de ser descoberto. O jovem avistou alguém de costa para ele encarando o outro ser estranho que ele vira anteriormente. O homem que lutava segurava algo semelhante um bastão de madeira com um cristal azul na ponta. Como não fora descoberto, Eliel continuava olhando, e foi nesse momento que ele viu o homem repetir as palavras que ele ouvira antes.
     _ Lorem herba.
     Uma rajada de energia azul saiu do cristal no bastão e acertou o ser estranho, arremessando-o contra a parede, e por onde a energia passava, deixava um rastro azul. Foi ai que Eliel entendeu que o primeiro ser estranho também fora atacado por aquele homem. Antes que o agressor dos seres se virasse, Eliel correu novamente para dentro da sala de aula e se escondeu atrás da porta. O homem entrou na sala procurando pelo garoto; caminhou para próximo da janela, e antes que se virasse para sair, uma rastro de energia negra o acertou nas costas jogando-o para fora do prédio pela janela. Segundos depois um terceiro ser estranho adentrou na sala, caminhou até a janela quebrada, olhou para fora e saltou. O garoto não ouviu nada, apenas avistou outro rastro de energia azul lançando aquele ser negro para cima. O homem pulara pela janela novamente para dentro da sala de aula, e assustado, Eliel saiu correndo sem olhar para trás. Ele só ouviu as palavras:
     _ Vis magna.
     Eliel bateu em um espécie de escudo de energia azul bloqueando a porta, e caiu sentado. O jovem levantou-se rapidamente, pegou uma mesa e ia jogar contra aquele homem, quando ele pára no último segundo.
     _ Sr. Fernando? - Disse o garoto abaixando a mesa. - É o senhor mesmo?
     _ Não tenha medo Eliel. Sou eu mesmo!
     _ Como o senhor consegue fazer essas paradas legais? - Disse Eliel colocando a mesa no chão. - O que são essas coisas que o senhor atacou?
     _ Eles se intitulam os "Korbocs". São Elfos Negros. Servos leais de Korboc, rei do Reino Negro. 
     _ O que? - Eliel falou sorrindo. - Isso não é hora de brincadeiras Sr. Fernando. Estou falando sério. - Ele sorriu coçando a cabeça. - Diz aí, quem são eles?
     _ Estou te falando a mais pura verdade.- Disse Fernando se aproximando de Eliel.
     _ Se você diz a verdade, quem realmente é o senhor e o que eles querem?
     _ Eu na verdade sou um Elfo da Luz, especificamente um Elfo Sacerdote. - Fernando parou de frente para Eliel e continuou. - Me disfarcei de professor de química para poder ficar por perto e cuidar de você.
     _ Cuidar de mim? Por que?
     Minha missão nesse mundo, era manter você seguro. Os Korbocs demoraram bastante tempo, mas acabaram descobrindo onde você estava. - Fernando fez uma pausa breve e só então continuou. - Eles querem capturar você e levar para o rei deles.
     _ Por que eu? Por que o senhor não se parece com eles já que diz ser um elfo.
     _ Eu estou disfarçado, e eles querem te capturar porque você... - Fernando se calou quando viu um elfo negro pulando a janela e preparando um ataque.
     O professor segurou Eliel pelo braço, desfez a barreira na porta e sair arrastando o garoto e dizendo:
     _ Não da para explicar nada agora! - Ele continuava arrastando o garoto. - Precisamos ir para um lugar seguro.
     Eles correram até o estacionamento da escola, entraram no carro do professor e saíram em alta velocidade pelas ruas da cidade. Eliel permanecia calado; mas volta e meia ele olhava para trás pelo vidro traseiro do carro para ver se não eram seguidos. Mil coisas se passavam na cabeça daquele jovem de dezessete anos, e ele ainda parecia não acreditar no que estava acontecendo.
     Poucos minutos; cerca de quarenta para ser mais exato; Fernando entrou com o carro por uma estrada de terra, dentro de uma floresta preservada por ambientalistas. Ele continuou adentrando apressadamente pela floresta em alta velocidade, e só parou quando não havia mais espaço para o carro passar. Ambos desceram do carro e continuaram andando.
     Em certo ponto da floresta, as árvores se enfileiravam de lado e de frente uma para outra, formando um túnel de árvores gigantescas. Logo na entrada desse túnel, Fernando estendeu a mão direita para frente, e em movimentos circulares no sentido horário, ele disse:
     _ Ut patet in porta. - Então na frente deles uma luz azul brilhou forte e intensa, e no fundo do túnel, formou-se um portal.
     _ O que significa essas palavras que você disse? - Eliel perguntou para o protetor.
     _ Eu disse. - Ele fez uma expressão que sempre fazia quando ia explicar uma matéria difícil de química. - Que o portal se abra.
     _ Entendi. Que língua é essa?
     _ Esse é o Dialeto Élfico. - Eles começavam a entrar no túnel de árvores. - Toda a classe de elfos falam esse dialeto.
     _ E o que vem depois desse portal? - O jovem perguntou um pouco apreensivo.
     _ Você descobrirá um novo mundo!
     _ Ele é muito perigoso?
     _ Não se preocupe! - Começavam a atravessar o portal. - Estaremos juntos, e eu protegerei você!
     Os dois atravessaram o portal, e do outro lado também era uma floresta; porém era evidente que as árvores haviam mudado. Eliel sabia que eles não estavam no mesmo lugar. A floresta parecia ter vida própria, e o jovem tinha a leve sensação de que eram observados pelas próprias árvores. Algumas delas eram retorcidas, e seus galhos se entranhavam umas às outras, formando um paredão.
     Eliel se assustou quando olhou para Fernando, e viu um ser parecido aos que procuravam por ele na escola. Porém o protetor dele tinha os olhos e os cabelos longos na cor de mel. Sua pele era bem cuidada e sua face tinha uma expressão suave e calma. Agora as roupas daquele elfo estavam diferentes. Ele vestia uma túnica azul turquesa, com detalhes na cor de mel. Ele havia crescido cerca de trinta centímetros e tinha uma postura firme e ereta. Eliel ficou surpreso com a mudança do protetor.
     _ Sr. Fernando, o senhor ficou muito diferente! - Falou o jovem sorrindo.
     _ Meu nome não é Fernando jovem elfo. - Disse o sacerdote. - Me chamo Fhólyn.
     _ Nossa, que nome estranho!
     _ Esse nome é muito comum aqui. Você vai se surpreender quando ouvir os outros nomes élficos desse mundo. - Ele segurou no braço de Eliel e continuou. - Vamos nos apressar, não podemos ficar expostos por muito tempo, já que você é procurado pelos Korbocs.
     Bem rápidos eles saíram da floresta, e assim que se afastaram um pouco dela, o jovem elfo pôde avistar o palácio para onde estavam indo.
     _ Que lugar magnífico! - Disse ele encantado com o que via.
     _ Isso é só o começo. - Falou Fhólyn. - Agora podemos andar mais tranquilos, pois daqui em diante, já estamos no território amigo. Entramos no Reino de Álfheim.
     _ Quem é esse Álfheim?
     _ Álfheim foi o último rei dos Elfos da Luz. - Ele abaixou a cabeça com uma expressão triste. - Mas cerca de doze a quinze dias atrás ele morreu. - O elfo levantou a cabeça e encarou Eliel. - A filha dele; a princesa Lórhyen; assumiria o trono, mas um dia antes da cerimônia de coroação, ela fora sequestrada por alguns Elfos Negros sob a ordem de Korboc. - Ele respirou fundo e continuou. - E como suspeitávamos, o Rei Negro mandou os servos dele para te capturar, pois o desejo dele sempre foi assentar no trono do Palácio da Luz e dominar todo esse mundo.
     _ E o que eu tenho a ver com essa história toda? O que um ser humano tem a ver com essa guerra entre elfos da luz e elfos negros? - Perguntou Eliel confuso.
     _ Os humanos não têm nada com isso!
    _ E por que então eles estão atrás de mim? - Ele sorriu. - Não sei se eles olharam direito, mas eu sou humano!
     _ Você não é humano! - Fhólyn disse olhando Eliel nos olhos. - Você é um Elfo da Luz!
     Antes que Eliel pudesse esboçar qualquer ração, dois elfos se aproximaram deles. O jovem garoto observou que eles o encaravam admirados, e fizeram uma saudação discreta para o sacerdote.
     _ Olá sacerdote Fhólyn. - Disse um dos elfos. - Não é muito comum os Elfos de Alto Grau andarem fora do palácio. Como conseguiu esse grande feito?
     _ Ele ainda não sabe que é um. - O sacerdote virou de costas para Eliel e falou bem baixo para os outros dois. - Esse é o elfo que eu protegia no outro mundo.
     _ Então ele é o...
     _ Isso mesmo. - Disse Fhólyn interrompendo o elfo. - Tenho que levá-lo para o palácio e explicá-lo toda a história.
     _ Então daremos licença e deixaremos que sigam para seus destinos.
     Os dois elfos olharam para Eliel fazendo uma reverência longa. O jovem não entendeu bem o motivo deles terem feito aquilo, mas preferiu não dizer nada. O sacerdote o puxou pelo braço e continuaram andando.
     
     Fhólyn acabara de entrar no Palácio da Luz com Eliel e seguia para a sala do trono. O sacerdote já havia mandado um recado por um mensageiro, para que os Elfos de Alto Grau os aguardassem chegar. Eliel ficara admirado com a grande beleza do palácio. As paredes eram todas trabalhadas e adornadas. Várias janelas permitiam que a luz do sol entrasse, iluminando assim todo o ambiente. Quando os dois atravessaram a porta que protegia a sala do trono, quatro Elfos de Alto Grau estavam assentados na mesa de banquetes que ficava antes do trono. Todos eles tinham a mesma cor dos olhos, cabelos e tipo de pele, e quando avistaram Eliel e Fhólyn, os quatro elfos se levantaram admirados.
     _ Isso não é possível. - Disse um deles. - Não fazia ideia de que ele seria um de nós.
     _ Eu também não sabia, só descobri quando passamos para esse mundo, e sua verdadeira forma se revelou.
     _ Teremos que treiná-lo antes de troná-lo o próximo rei. - Falou outro dos quatro elfos.
     Um terceiro elfo começou a andar na direção de Eliel e disse:
     _ Seja bem vindo Príncipe Élfhaim.
     Eliel virou-se para Fhólyn e perguntou discretamente.
     _ Eles estão falando o que, e de quem?
     _ Eles falam de você! - Disse o sacerdote observado a cara de assustado do jovem.
    _ De mim? Que nome é esse que eles me chamaram? O que eles quiseram dizer quando falaram que não imaginava que eu fosse um deles e que minha forma se revelou depois que eu atravessei o portal?
     _ Eles te chamaram pelo seu nome verdadeiro. Chamaram você de Élfhaim, o nome que sua mãe te deu quando você nasceu. - O sacerdote continuou sem fazer pausa. - Depois que você entrou nesse mundo, sua forma de elfo se revelou. - Fhólyn sorriu. - Você não tem mais aquela face de garoto humano; agora você se parece com um elfo. É claro que ainda está com vestes humanas, mas logo trocaremos. - O sacerdote conduziu o garoto até um espelho e continuou. - Eles falaram que não imaginavam que você seria um deles, porque você é um Elfo de Alto Grau!
     _ E isso é bom ou ruim? - Perguntou o jovem elfo sem entender nada.
     _ Isso é ótimo. Nesse mundo só existem ou pelo menos existiam quatro Elfos de Alto Grau. - Ele colocou Élfhaim de frente para o espelho. - Agora, existem cinco. - Com expressão serena ele continuou. - Um Elfo de Alto Grau tem poderes desconhecidos e de níveis inimagináveis. Agora se olhe no espelho, e veja como você é de verdade.
     O jovem se olhou no espelho e viu uma imagem parecida com a do sacerdote. Porém seus olhos eram cinzas. Seus cabelos longos e brancos. Seu rosto tinha uma expressão forte e imponente e sua postura era majestosa, como deveria ser  a postura de um verdadeiro príncipe.
     Élfhaim não reconhecia a própria face, mas havia gostado do que ele acabara de olhar. Agora na sua cabeça passavam mil perguntas, porém ele teria que selecionar as melhores para fazer. Quando ele ia começar a perguntar alguma coisa, o quarto elfo que até então estivera calado esse tempo todo se pronunciou.
     _ Olá Príncipe Élfhaim. Meu nome é Myradar. Um dos meus dons é ler pensamentos, e antes de você fazer a primeira pergunta, nós devemos te contar a sua história. - Ele puxou uma cadeira e olhou para o jovem. - Assente-se aqui. Vamos te contar tudo agora. - Concluiu o elfo assetando-se à mesa com os outros.









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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Uma Rosa Branca na Água

     Ainda sinto saudades de quando papai me levava para a casa de veraneio da vovó! Nossa, lá era incrível. Lembro-me muito bem de que quando eu chegava, dava um beijo na vovó e corria direto para o pier até chegar bem próximo da lagoa. Era uma lagoa enorme com águas escuras e verde. Puxa, ainda sinto o cheiro característico que só aquela lagoa tinha. Eu arrancava minha blusa e pulava de short naquela imensidão de água. Eu sabia nadar, pois papai havia me colocado na aula de natação na minha cidade. Quantas vezes cheguei em casa cansado de tanto nadar, pois eram horas e mais horas de treinamento. Penso até hoje que no fundo papai queria que eu fosse um nadador profissional. O mais proveitoso disso tudo, era que eu podia fica sozinho na lagoa sem que meus pais ficassem na minha cola. 
     Todo verão estávamos lá. Mamãe, papai e eu. Vovó nos recebia com muita alegria e preparava uma mesa de guloseimas que me deixava completamente sem fome para o almoço. Aquela lagoa era muito especial para mim. Muitas vezes brinquei dentro dela imaginando que eu fosse o rei daquele lago, e que os peixes que ali viviam seguiam as minhas ordens. Às vezes paro para pensar e fico sorrindo de mim mesmo de como minha mente era fértil. Ficávamos na casa da vovó por duas semanas, depois nós voltávamos para nossa cidade. Eu curtia cada minuto como se fosse o último. Por diversas vezes mamãe chegava na beira do pier gritando pelo meu nome, e se assustava toda vez que eu demorava emergir; pois como rei daquele lago; eu tinha por obrigação viver submerso. Ainda ouço ela dizendo:
     _ Lourenzzo, está na hora do almoço. - Então ela pausava e gritava novamente. - Onde está você menino? - E quando ela me via, olhava com uma expressão de seriedade e continuava. - Acho que você queria ser um peixe. Não se cansa da água não? - Se afastando continuava falando. - Vamos logo, estamos te esperando para almoçar.


     Quando eu tinha por volta de oito pra nove anos, a casa vizinha à casa da vovó que vivia desocupada, estava com visitantes. Uma família tinha se mudado para lá para se afastarem da vida corrida das grandes metrópoles. Pelo menos foi o que vovó me disse. Como de costume, corri para o pier, e antes de saltar no meu reino, avistei uma menina correndo para fora da propriedade. Desviei minha rota e fui correndo atrás dela. Antes que ela ultrapassasse a cerca que dividiam as duas casas eu gritei.
     _ Olá, quem é você? Não corre não, vamos brincar juntos! - Ainda correndo eu continuei. - Meu nome é Lourenzzo e o seu?
     A menina parou de frente para a cerca e se virou para mim. Com cuidado ela me avaliou dos pés à cabeça e com receio do que eu poderia dizer ou fazer, ela permaneceu imóvel e calada. Minha intensão era fazer uma nova amizade; e criança não tem cerimônia com as coisas; corri, peguei ela pela mão e sai arrastando-a até a beira do pier. Sentei na ponta e fiquei balançando os meus pés, enquanto ela me olhava de canto de olho. Olhei para ela e dei meu sorriso falhado; pois estava sem um dente; e falei com tom de brincadeira.
     _ Sente-se aqui comigo. Qual é seu nome?
     _ Clarice. - Ela falou em um som quase inaudível. 
     _ Qual? Não ouvi direito!
     _ Clarice. - Ela repetiu com a voz entre dentes.
     _ Clara? - Perguntei puxando ela para baixo.
     _ Não! - Disse ela gritando. - Meu nome é Clarice! Você está surdo?
     Dei uma gargalhada e olhei para a imensidão diante daquele lago.
     _ Está vendo isso tudo Clara? - Disse eu apontando para aquelas águas verdes. - Esse é meu reino!
     Ela me olhou com uma cara de surpresa e  não disse nada!
     _ Você não acredita que esse reino inteiro é meu?
     _ Não é isso! Seu reino faz fronteira com o meu. - Disse ela baixinho. - Estou surpresa que você insiste em me chamar de Clara.
     _ É mais fácil de chamar de Clara do que de Clarice. - Falei já mudando de assunto. - Posso conhecer o seu reino?
     _ Não! - Ela disse com voz firme. - Não antes que eu conheça o seu!
     _ Não seja por isso. - Arranquei minha blusa dizendo. - Vamos entrar no meu reino. - E dei um salto dentro da água.
     _ Eu preciso de ajuda! Não posso entrar no seu reino sem a sua companhia.
     _ Tudo bem senhorita Clarice! - Falei saindo da água e segurando ela pela mão.
     _ Me chame de Princesa Clara.
     _ Tudo bem princesa. Vamos entrar no meu reino, o Reino das Águas Verdes.
     Saltamos juntos na água. Eu segura Clara pela mão para que ela não se afogasse, pois ela não sabia nadar, e sozinha não conseguia ficar por cima da água. Brincamos o dia inteiro, não paramos nem para almoçar. Quando já era bem de tarde, a  mãe de Clara chamou por ela. Saímos do meu reino e a acompanhei até a fronteira que separava os dois reinos.
     _ Posso conhecer o seu reino agora?
     _ Amanhã. - Disse ela sorrindo e me olhando com os olhos azuis mais lindos que eu já havia visto.
     _ Tudo bem. Amanhã pela manhã estarei aqui te esperando para entrarmos no seu reino.
     Ela deu um beijo no meu rosto e saiu sem dizer mais nada. Fui para a casa da vovó, e chegando lá, fui direto para a cozinha. Peguei uma fatia de bolo de frutas vermelhas com raspas de chocolate na cobertura, e quando ia comer, papai aparece na porta.
     _ Pode parar rapazinho! Vai direto para o banheiro!
     _ Para que papai?
     _ Vá tomar seu banho.
     _ Tomei banho o dia inteiro.
     _ Anda logo garoto. Sem discussão. 
     _ Só vou comer esse pedaço de bolo.
     _ De jeito nenhum. Primeiro o banho. Depois o jantar.
     _ E o bolo? - Perguntei com uma expressão de piedade.
     _ O bolo você come depois de jantar. Será sua sobremesa. 
     Fiz o que meu pai mandou. Depois de comido três fatias daquele bolo delicioso, fui dormir. Eu estava muito cansado por ter brincado o dia inteiro.


     Era bem cedo quado eu esperava Clara na fronteira dos reinos. Ela demorou um pouco para aparecer, mas acabou aparecendo. Ela veio toda contente mandando que eu passasse para o outro lado da cerca e entrasse no seu reino. 
     O jardim da casa dela era muito bonito e grande. O reino da Clara era gigantesco. De acordo que nós íamos entrando, o lugar ficava cada vez mais bonito. Quando eu não esperava, Clara parou e me encarou. Não disse nada, apenas ficou me olhando. Eu sem entender o que estava acontecendo, rompi o silêncio que estava entre nós.
     _ O que foi Clara? Aconteceu alguma coisa?
     _Não! - Ela falou séria. - Posso confiar em você?
     _ Sim! Claro que pode. - Eu segurei na mão dela. - O que foi?
   _ A partir do momento que atravessarmos essa parte do jardim. - Dizia ela apontando para o arco formado pelo encontro das galhas de duas árvores. - Você entrará no meu reino. Tudo irá mudar. - Ainda séria ela continuou. - Você não pode contar para ninguém o que você verá aqui! - Cruzando os dois indicadores e dando um beijo ela continuou. - Jura que não contará para ninguém. Só poderá romper esse silêncio quando eu já estiver morta!
     _ Eu juro. - Disse sorrindo.
     _ Então vamos! - Disse ela me puxando pelo braço.
     Mesmo com a minha imaginação fértil de criança, eu jamais poderia imaginar que o que ela me falara fosse verdade. No exato momento que cruzamos o arco criado pelas galhas, minha visão ficou embaçada e muito turva. Achei que estava passando mal; porém; quando abri os olhos após esfregá-los com força; eu não acreditava no que eu estava vendo. Aquilo era muito real para a imaginação de uma criança. Algo realmente havia acontecido, e eu realmente estava no Reino da Clara. O jardim estava completamente diferente, e onde antes era a casa da Clarice, agora havia se transformado no Palácio da Princesa Clara. 
     Ainda assustado com aquilo tudo, permaneci calado, enquanto ela me encarava sorrindo. Segundos após o susto eu começava a acreditar nos meus olhos; nesse momento ela se virou novamente para mim e foi dizendo.
     _ Não esqueça do juramento.
     _ Não esquecerei.
     Andamos por todo o reino da princesa, e ela fazia questão de me mostrar tudo. Eu estava muito feliz por ter uma nova amiga e mais feliz ainda por ver com meus próprios olhos a imaginação tomar forma. A hora já estava bastante avançada, quando eu disse que teria que ir embora. Então Clara me convidou para participar de um banquete na casa dela. Afirmou que seria um belo jantar, e que vários animais estariam presentes. Aceitei, e aprendi a não duvidar mais no que ela me dizia. Eu estava em um reino verdadeiro, e Clara era mesmo a princesa daquele lugar.
     Finalmente entrei no palácio e me admirei com tanta beleza e riqueza. Havia muitos quartos e salas. Não consegui nem contar. Clara mandou que eu me assentasse em uma das gigantescas poltronas que tinha em uma das salas enquanto o baquete ficava pronto. Fiz o que ela me disse e acabei adormecendo. 


     Não sei exatamente quanto tempo eu havia dormido; acordei e tomei um baita susto quando uma lebre me cutucou e disse para mim que o jantar estava pronto e que o banque já estava posto. Muita coisa ali era estranha, porém eu já estava me acostumando. Fui em direção à copa quanto um gato me barra no meio do caminho e me diz que eu teria que mudar minhas roupas e vestir roupas reais, antes de me apresentar diante da princesa em trajes de gala. Eu aceitei de imediato e fui conduzido até um quarto completamente enfeitado.
     Vesti uma roupa que coube certinho em meu corpo franzino e magro. Era uma roupa de príncipe e naquele momento eu estava pronto para me apresentar à Princesa Clara. Fui novamente em direção à copa, mas dessa vez tive livre acesso. Meus olhos ficaram iluminados quando eu vi o banquete posto naquele lugar. Era lindo. Todo iluminado e cheio de deliciosas comidas. Alguns animais estavam assentados à mesa e se levantaram quando me aproximei e fui recebido de braços abertos pela princesa.
     Clara me abraçou e disse para eu me assentar. Me assentei e comi de tudo um pouco que havia ali. Eu tinha a sensação que teria que aproveitar ao máximo cada segundo. Depois de comer muito e me divertir bastante, eu disse que teria que ir embora para a casa da vovó. 
     A princesa foi me acompanhando, e quando passamos pelo arco das árvores; toda aquela magia se desfez. O jardim voltou ao normal; o palácio agora era uma casa novamente; e meus trajes que outrora foram reais, agora não passavam de roupas comuns. Fui acompanhado até a fronteira, e de lá fui para casa da vovó.


     Todos os dias Clara e eu nadávamos no meu reino pela manhã e íamos para o reino verdadeiro dela depois do almoço. Nos tornamos grandes amigos, e ninguém podia negar isso. Minha temporada na casa da vovó estava prestes do fim, e eu não queria nem imaginar quando chegasse o dia que eu deveria partir. Naquela tarde em especial, Clara me chamou para ir até o quarto dela. Quando entramos, elas assentou-se na cama e me disse:
     _ Descreve para mim o que você vê no meu quarto.
     _ Bem... vejo uma cama grande, um guarda roupas maior ainda. Janelas enormes e iluminadas. Cortinas brancas. Poltronas na cor carmesim e carpete no mesmo tom. Um papel de parede bem feminino e um cheiro de rosas delicioso. - Afirmei olhando para ela e esperando ela me dizer algo.
     _ Você também sentiu o cheiro das rosas?
     _ Senti! Por que? Não era pra sentir?
     _ Receio que não. - Ela falou com uma expressão de tristeza.
     _ Por qual motivo você ficou triste.
     _ Porque vejo tudo que você viu. Mas em minha cama, vejo muitas rosas brancas.
     _ Como assim? - Me assustei. - Não vejo rosas alguma.
     _ Tudo bem. - Ela desconversou. - Quero te entregar uma coisa.
     _ O que é? - Eu disse animado. - Pode me entregar.
     _ Não! Agora não. - Ela foi até a porta do quarto e a abriu. - Preciso ficar sozinha.
     _ Como assim? Fiz alguma coisa?
     _ Não meu amigo. - Ela deu um sorriso triste. - Apenas preciso que você vá e não se esqueça nunca de mim.
     _ Tudo bem. - Eu passei pela porta e continuei. - Até amanhã.
     Ela não disse nada, apenas fechou a porta e ficou quieta lá dentro. Eu fui para a casa da vovó, e assim que cheguei, mamãe e papai resolveram me levar para o parque. Brinquei muito, até bem tarde da noite. Só saímos de lá quando o parque fechou.
     Chegamos, eu olhei para a casa de Clara e percebi que tudo estava muito escuro, então fui direto para a cama. Durante a madrugada eu ouvi uma movimentação estranha dentro da casa da vovó, mas não quis me levantar para ver o que era. Eu estava muito cansado e queria estar bem disposto pela manhã para brincar com Clara. Antes que o sono me tomasse novamente, ouvi vovó dizendo alguma coisa embolada. Mas a única palavra que eu ouvi foi "morreu". Não dei muita importância e acabei apagando novamente.
     No outro dia pela manhã, nem mesmo comi nada e já fui direto para a casa de Clara. Chegando lá tudo estava fechado. Não havia ninguém. Esperei bastante para ver se ela aparecia, e nada. Voltei para a casa da vovó na hora do almoço emburrado; então papai perguntou o que eu tinha. Falei com ele que não havia visto a Clara a manhã toda e que nem tinha notícias dela. Nesse momento papai virou-se para mamãe dizendo.
     _ Devemos contar para ele?
     _ Não! - Disse minha mãe gritando desesperada.
     _ Contar o que? Eu quero saber. - Eu falei ficando de pé e olhando para meu pai e depois para minha mãe. - Não devem me contar o que?
     Vovó veio calmamente até mim, me segurou pelos braços e me conduziu até o sofá da sala. Depois que eu me assentei, ela assentou-se ao meu lado. Olhando no fundo dos meus olhos, ela disse bem devagar.
     _ Lorenzzo, meu querido. -Ela fez uma pausa além do normal. - Clara foi embora.
     Aquela notícia caiu como bomba em minha cabeça. Eu saí correndo para o píer e não olhei para trás. Não queria acreditar que minha amiga havia partido sem se despedir.
     _ Já sei! - Eu falei alto comigo mesmo. - Ela deve estar no reino dela.
     Eu saí correndo, atravessei a cerca, e parei de frente para o arco das árvores. Fechei os olhos e atravessei. Fiquei decepcionado quando abri meus olhos e nada havia mudado. Tudo estava do mesmo jeito. Então voltei arrasado para o píer e lá fiquei assentado.
     _ Não acredito que você partiu. - Eu falava sozinho. - Não se despediu e nem me deu algo para que eu me lembrasse de você.
     Quando eu menos esperava, senti o perfume de rosas. Olhando para dentro da lagoa, muito surpreso e tomado de uma alegria que só ela me fazia sentir, eu avistei... uma rosa branca na água.








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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Eu Caminhei Com Um Anjo

     Eu estava descendo as escadas do meu apartamento indo em direção ao meu trabalho quando o síndico me chamou.
     - Isabelle, hoje faremos reformas no prédio até às dezoito horas.
    - Tudo bem Sr. Pedro, estarei no trabalho até mais tarde hoje, não corro o risco de chegar e ter que enfrentar esse barulho infernal que reformas fazem.
     - Tudo certo então! Tenha um bom dia.
     - Um bom dia para o senhor também.
     Fui caminhando até o estacionamento do prédio e entrei no meu carro que estava estacionado no mesmo local que deixei. Ainda bem né, afinal de contas, não seria nada legal eu chegar para pegar meu carro e não encontrá-lo onde deveria estar. Segui meu trajeto usual e não enfrentei muito trânsito, pois às cinco e meia da manhã eram poucos que passavam por ali. 
     Depois de meia hora de trajeto, cheguei em meu trabalho. Passei pela recepção e cumprimentei o segurança e a faxineira que já estavam exercendo suas funções. Peguei o elevador até o nono andar já procurando a chave da minha sala dentro da bolsa.
     - Droga! Essas chaves parecem ser ilusionistas. Pois sempre fazem o truque do desaparecimento.
     Parada de frente para minha sala ainda procurava pelas benditas chaves. Ainda procurando as chaves, eu retornava para o elevador com destino a recepção para poder pegar as chaves reservas com o segurança; neste exato momento, minha mão esbarra em algo metálico e gelado.
     - Achei! - Falei gritando. Sorte que não havia ninguém próximo de mim.
     Novamente de frente para minha sala, enfiei a chave e girei confiante. Com muita alegria eu pude girar a maçaneta e entrar no meu mundo exclusivo. Sentei na minha cadeira e já abrindo a gaveta da minha mesa, peguei um bloco de papéis grudados um ao outro com um clipe enorme. Olhei com atenção para o bilhetinho amarelo que vinha pregado em anexo.
     - ``Isabelle, este texto é uma obra que deve ser avaliada para publicação. Ele requer uma certa urgência´´. - E em destaque com caneta marca texto dizia. - ``Olhe com muito carinho, pois esse texto é de um grande amigo meu.´´
     Peguei o telefone e disquei para a sala do presidente da editora. Chamou por várias vezes até desligar. Era óbvio que o Sr. Gustavo não havia chegado ainda. Se tinha uma coisa que eu detestava eram textos apadrinhados por alguém. E eu sendo a editora chefe da Editora Magazzine, responsável pela publicação mensal de cinco tipos diferentes de revistas e diversos livros, decidia sempre o que podia ser publicado e o que deveria ser jogado no lixo. E os textos apadrinhados na maioria das vezes eram lixos que eu jamais daria ordens de serem publicados em nenhuma de minhas revistas. Nesse caso seria a publicação de um livro e eu já ia pensando na minha fala na hora de dizer para o Sr. Gustavo, que o lixo de livro que ele pediu para ser avaliado, não iria chegar em sua fase final; que seria a fase de impressão. Joguei aquele bloco de papel para o lado e fui direcionar as publicações das próximas revistas.
     
     Meu dia havia passado muito rápido, e quando olhei no relógio, ele marcava quinze minutos para as dezoito horas. Não era minha intenção ficar ali por mais tempo, e muito menos sair antes do horário, mas ler tantos textos durante o meu dia inteiro, me causou uma tremenda dor de cabeça. Sem parar para pensar larguei o que estava fazendo; peguei meu celular e mandei uma mensagem para o meu namorado. Marquei de encontrá-lo em casa para tomarmos um vinho e comermos uma massa. É claro que depois de um dia cansativo de trabalho, eu não iria cozinhar. Na mensagem já dizia a ele que passasse no restaurante italiano próximo da casa dele e comprasse as massas e o vinho. 
     Quando saí da minha sala, os funcionários já estavam contando os segundos para irem embora, e se surpreendera quando viram a chefe deles saindo da sala dela no horário de ir embora. Isso não era comum, pois eu costumava ficar até mais tarde resolvendo pendências e mais pendências. Mas não interessava a ninguém, aquele dia eu resolvi sair no horário. Desci até o estacionamento da editora e peguei meu carro. Me assustei com o trânsito que estava nas ruas. 
     - Nossa, de onde saíram tantos carros?
     Aquilo era novidade para mim que quando saía era tarde o suficiente para deixar as ruas livres. Não gostei muito quando cheguei em casa depois de uma hora no trânsito. Mas tudo bem, eu finalmente estava entrando pela recepção do condomínio e seguia em direção ao elevador. Pedi ao porteiro que guardasse meu carro no estacionamento e entregasse a chave para Caio; meu namorado; quando ele chegasse.
     Eu não acreditei quando ouvi barulho de furadeira. Não era possível que depois das dezenove horas ainda haviam gente fazendo obras. Fui indignada até o apartamento do síndico reclamar daquilo. De frente para o apartamento dele, bati na porta.
     - Sr. Pedro. Sou eu, Isabelle.
     Ninguém atendeu. Enquanto eu retornava para a recepção, escorreguei no piso molhado e bati com a cabeça no chão. Nossa, doeu demais. Fiquei tonta e vi tudo ficando escuro. Ninguém apareceu para me ajudar. Revoltada me levantei e fui me queixar com porteiro a respeito daquele chão molhado. Não havia ninguém na recepção; nem na portaria; em lugar nenhum. Fiquei mais irada ainda. Ia pegar o elevador, quando uma criança entra correndo pela recepção gritando o meu nome. Olhei assustada para aquela pequena criatura que eu não conhecia. Como ela poderia me conhecer? De onde ela vinha? Onde estavam os pais dela? E aquela criança continuava vindo em minha direção e continuava gritando pelo meu nome.
     - Isabelle. Isabelle. - Sorrindo ela estendeu a mão e me pediu a minha.
     Eu resisti, e não dei minha mão. Não conhecia aquele menino. Ainda sorrindo ele veio até mim, pegou na minha mão, e aquela dor danada que eu ainda sentia na cabeça desapareceu de repente. Como num passe de mágica. Aquela mãozinha quase sumia entre a minha, mas do nada ele me puxou para baixo me forçando a ficar agachada. E aproximando aqueles pequenos lábios do meu ouvido me disse:
     - Vem comigo!
     - Para onde? - Perguntei. - Para onde? - Insisti. - Quem é você e onde estão os seus pais?
     Ele apenas sorriu. Olhando no fundo dos meus olhos e disse novamente.
     - Vem comigo! Preciso de sua ajuda.
     Eu não quis perguntar mais nada. Afinal, uma criança de aproximadamente três a quatro anos não poderia me fazer mal algum. Dada a mão aquele garoto, o segui. Ele me levou para fora do prédio e foi me conduzindo pela calçada. Caminhávamos, e ainda de mãos dadas ele sorria pra mim. Eu não entendia o que ele queria ou o que estava acontecendo com ele. Mas a paz que ele me transmitia era tão boa e tranquilizadora, que eu o segui sem questionar.
     Andamos por todo o quarteirão. Passamos pela praça e pelo parque que ficavam próximos do prédio onde eu morava. Eu não sentia cansaço apesar de ter trabalhado o dia todo. De repente eu me toquei que estávamos andando debaixo do sol. Mais como isso era possível? Antes de sairmos  do prédio ainda eram um pouco mais de dezenove horas. Como havia amanhecido tão rápido e eu não tinha visto. Algo estava muito estranho. Parei de andar, puxei a minha mão daquela mão pequenina e o indaguei.
     - Espere um minuto! Onde estamos indo? Como amanheceu tão rápido?
     - Você não viu o sol nascendo? - Perguntou o pequenino.
     - Não! Agora mesmo eu havia acabado de chegar do meu trabalho. - Disse em tom de pura certeza do que eu dizia.
     - Não. - Sorrindo ele afirmava. - Você não chegou agora. Tem tanto tempo que você chegou!
     - Você está brincando comigo né? - Eu afirmei. - Cheguei agorinha mesmo.
     - Não, você não chegou! - E com uma expressão de amor e carinho ele continuou. - Posso te provar o que digo.
     Eu parei para pensar. Procurei uma provável explicação de como havia amanhecido tão depressa. E como um garoto tão pequeno poderia me provar que eu estava enganada de uma coisa que eu tinha a absoluta certeza de que estava correta. Sorri para mim mesma. Então sem questionar mais nada, estendi a mão para o garoto e esperei ele me dar a mãozinha dele. E foi justamente o que ele fez.
     Continuamos andando, sem dizer nada um para o outro. A única coisa que fazíamos era andar. Eu não tinha noção do quanto havíamos andado e muito menos havia percebido que já era noite novamente. Como o tempo mudava tão rápido e eu não percebia? Cansei de esperar e parei novamente.
     - Me diz agora garoto! O que está acontecendo que já é noite novamente e não percebi?
     - Você não tem percebido muitas coisas que acontecem ao seu redor. - Disse ele. - Tem bastante tempo que as coisas acontecem e você não percebe. - A expressão dele se asseverou. - Quero que isso acabe. Preciso que você venha comigo!
     - Ir pra onde? O que está havendo? - Eu me irritei. - Como alguém tão pequeno é capaz de me chamar a atenção e me provar coisas que nem mesmo eu entendo? - Olhei nos olhos brilhantes dele e continuei. - Acho que estou ficando louca. Sair andando com alguém que nem conheço e achar que o tempo está passando depressa. Agora ainda devem ser por volta das dezenove horas. Vou voltar para meu apartamento e vou descansar, pois tenho que acordar cedo para trabalhar.
     Ele me olhou com expressão de tristeza e de cabeça baixa disse baixinho.
     - Você só vive para isso! Não faz nada além de trabalhar.
     Eu muito irritada, disse gritando.
     - Quem é você? Onde estão os seus pais?
     - Você ainda não me conhece, mas conhece os meus pais! - Ele olhou nos meus olhos, estendeu a mãozinha para mim e continuou. - Venha comigo! Depois que você ver meu pai e minha mãe, você saberá quem sou eu.
     - Faz muito tempo que estamos andando e não chegamos nunca.
     - Estamos chegando, só precisamos caminhar mais um pouco. - Disse ele.
     - Tudo bem. Então vamos logo.
     Caminhamos mais alguns minutos até chegarmos de frente para o hospital. Ele não parou. Me puxou para dentro e continuamos andando. Eu não via ninguém lá dentro daquele hospital, existiam nós dois apenas. Passamos por alguns corredores até chegarmos de frente para um quarto. Ele segurou na maçaneta e abriu cuidadosamente a porta. Tinha um homem sentado em uma cadeira de costas para a porta, debruçado sobre os pés de uma mulher que estava internada dormindo, mas ela estava ligada a muitos aparelhos. Me assustei quando o homem se virou. Era Caio; meu namorado; ele estava ali por quem? Eu não queria acreditar que ele estava me traindo. Quem era aquela mulher? 
     Me virei para ir embora quando o menino me segurou na mão e disse:
     - Entre. Por favor! Venha conhecer a minha mãe.
     - Me diz uma coisa. - Falei para ele. - Aquele homem ali é seu pai?
     - Sim! - Afirmou ele.
     - Vou embora. Não quero passar por isso!
     - Você precisa entrar. Se você for embora agora, tudo estará perdido para sempre!
     - Por que tenho que entrar?
     - Porque você precisa me conhecer e ver eu sorrir para você!
     - Você tem sorrido para mim desde o momento que te conheci.
     - Venha! Venha me conhecer! - Afirmou o garoto entrando no quarto e deitando na cama ao lado da mulher. Me assustei quando entrei e vi que onde o menino havia deitado agora tinha um bebezinho lindo e recém nascido.
     Como aquilo era possível? Eu estava começando a ter certeza que o bate que eu tive na cabeça me deixara louca. Ia sair do quarto quando resolvi perguntar para Caio quem era aquela mulher. Cheguei perto dele e o chamei. Ele não me olhou, mas continuou debruçado sobre as pernas daquela mulher. Chamei novamente e nada. Ele não estava me ouvindo. Aquilo me deixou mais irritada ainda. Furiosa, dei a volta no leito daquela mulher e resolvi olhar para ela. Quando eu avistei o rosto dela, uma luz forte ofuscou minha visão. Me senti fraca,e enquanto eu desmaiava eu ouvi uma frase:
     - Ela acordou!

     A claridade foi se apagando e, aos poucos eu fui percebendo que eu estava deitada em um leito de hospital e que Caio estava debruçado aos meus pés. Um médico se aproximou me avaliando e me disse com muita tranquilidade.
     - Seja bem vinda!
     Caio se aproximou, me deu um beijo na testa e disse com voz suave.
     - Meu amor, você sofreu um acidente no seu prédio. Tem nove meses e meio que você estava em coma. - Ele se afastou enquanto dizia. - Tem alguém aqui que você deve conhecer. - Ele se aproximou com um bebê no colo e continuou. - Olhe para o nosso filho. Você estava grávida e não sabia! - Ele concluiu virando a face do bebê para mim.
     Quando eu olhei para aquele pequenino, ele me deu um lindo sorriso... o mesmo sorriso do garoto que havia me levado para lá. Então entendi tudo. 
     Aquele menino era o meu filho. Eu sem saber caminhei com um anjo.
     



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Texto de Abertura

Com a modesta intenção de tentar colocar em alguma lugar a revolução de histórias que saltam da minha cabeça lutando para ganhar vida de qualquer forma, resolvi criar esse blog.
Não tenho grandes pretensões. Só quero que os leitores viajem junto comigo em um mundo completamente novo e que tenham a certeza que nesse universo, acontece de tudo!
Não fiquem acanhados; leiam com vontade e empenho o Universo de Ficção que nascerá em cada postagem.
Sem mais delongas... desejo uma boa leitura a todos!

Warley Dianor