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quarta-feira, 23 de março de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 03 -  Começando os Trabalhos


Ao sair do paraíso, me aterrissei na Terra em um beco escuro, sujo e fétido. Eu mal acabara de chegar, e já começava a sentir os efeitos do lugar, pois várias vozes vinham ao meu ouvido ao mesmo tempo, como se uma multidão estivesse em minha frente, mas na verdade ali não havia ninguém além de mim. Eu podia ouvir pessoas gritando, outras chorando; havia algumas bêbadas conversando, umas sorrindo e outras fazendo orações; todas essas vozes inundavam minha cabeça me fazendo ficar tonto. Então procurei focar a minha audição ali no local silencioso que eu estava, e aos poucos, as vozes foram sumindo e dando lugar ao silêncio que havia naquele beco. Já era noite, e passavam das vinte e três horas. Depois que eu comecei a ouvir normalmente, que fui reparar que meu brilho estava diminuindo, e assim persistiu até que eu pude ver que eu tinha um corpo; minhas asas estavam ocultas, e acredito que eu estava semelhante às criaturas de meu pai.
Resolvi sair daquele beco e ir em direção à rua que estava iluminada, e assim que eu saí do beco, dei de cara com um casal que veio em minha direção, e quando achei que eles iriam esbarrar em mim, simplesmente eles atravessaram através de meu corpo e continuaram seguindo como se nada houvesse ocorrido; foi então que percebi que eu era invisível aos olhos humanos.
_ Assim vai ser fácil fazer o meu trabalho. Posso observar qualquer um sem que eles saibam que eu estou aqui.  - Falei comigo mesmo em voz alta.
Comecei a seguir aquele casal, e fui cuidadosamente observando o comportamento deles. Poucos metros à frente de onde eu os encontrara, senti uma presença ruim; eu estreitei meus olhos e como mágica, minha visão foi ampliada a vários metros à frente, me permitindo enxergar um homem segurando uma arma na mão. Eu estava maravilhado de como meu pai havia me preparado e me dado o conhecimento de tudo no mundo dos humanos, e por essa razão, as coisas estavam fáceis para mim. Antes que o casal se aproximasse mais do provável assaltante, eu me movi mais rápido e passai na frente deles, assim que os dois se aproximaram de mim novamente, eu ergui minha mão e toquei na mulher. Ela parou, encarou o parceiro e disse.
_ Nossa, eu senti algo estranho.
_ Como assim? - Disse o rapaz.
_ Não sei. - Ela olhou para os lados e depois para trás. - Acho melhor a gente atravessar a rua, esse lado está meio escuro e pode ser perigoso.
_ Tudo bem.
Os dois deram as mãos novamente, atravessaram a rua e seguiram caminhando tranquilos e em paz.
Eu havia conseguido ajudar as primeiras criaturas de meu pai, e estava começando a gostar daquele trabalho. Eu me preparava para continuar andando por ali, quando uma voz veio forte e bem audível até mim.
_ Senhor, por favor, ajude minha filha, pois ela está sofrendo muito!
Fechei meus olhos, e quando os abri novamente, eu estava em um quarto de hospital vendo uma mulher debruçada sobre o corpo de uma criança que dormia em uma maca. Eu pude notar que ela estava muito doente, e também sofria com tudo aquilo. A mulher chorava e continuava orando.
_ Oh meu Deus, por favor, ajude minha pequenina. - Lágrimas escorriam cada vez mais. - O que ela fez pra merecer isso?
Vendo aquela cena, eu não sabia o que fazer, fiquei paralisado, apenas observando o fato. Mas em questão de segundos, uma luz esverdeada muito forte inundou o ambiente, e quando cessou, vi outro anjo além de mim naquele quarto de hospital.
_ Olá Rafael. Muito triste tudo isso né?
_ Sim! Mas eu não sei o que devo fazer. - Eu pausei e olhei para a mulher, depois prossegui. - Fui atraído até aqui, mas não sei o que devo fazer.
_ No momento certo você saberá, não se preocupe com isso.
_ Está certo. Qual o seu nome? Como me conhece?
_ Meu nome é Luziel! Eu sei seu nome. - Ele sorriu. - Você vai me perguntar como eu sei. É bem simples, anjos da Segunda Classe para cima, sabem o nome de todos os outros. - Luziel caminhou até a menina, e portando um cetro de ouro com uma pedra preciosa vermelha na ponta, tocou na menina.
_ O que você está fazendo?
_ Sigo ordens dadas pelo nosso pai. Ele ouviu o clamor da mãe dessa garota e me enviou para dar uma solução rápida a tudo isso. - Assim que tocou na garota com o cetro, ela parou de respirar, e desfaleceu. - Agora acabou.
Pude ver o espírito da menina deixando o corpo, colocando-se ao lado da mãe e dando um beijo nela. A garota me encarou, e sorriu, como se já soubesse o que viria a seguir. A mulher debruçada sobre o corpo sem vida parou de clamar, olhou para aquela casca, e então percebendo que ali não havia mais nada o que fazer, começou a gritar e chorar ainda mais alto de desespero e tristeza; ela sabia que sua filha havia morrido.
_ Você é o anjo da morte? - Eu perguntei para Luziel.
_ Não. - Ele sorriu para mim. - Sou o primeiro da Segunda Classe de anjos.
_ Então você pertence ao grupo das Dominações! - Eu afirmei com toda convicção.
_ Isso mesmo. Mas agora tenho que ir.
Luziel mal terminara de falar, e sumira num flash.  Segundos depois, a parede do quarto começou a tremer, descascar e se partir, abrindo uma enorme porta, que revelava uma escada dourada envolta em nuvens, nessa escadaria havia muitos anjos em vários degraus com as asas abertas, mãos estendidas e sorriso nos lábios. Eles chamavam pela jovem. A menina por sua vez me encarava, esperando que eu fizesse algo com o que estava acontecendo com a mãe dela, então eu caminhei até aquela mulher que estava inconsolável, e toquei no peito dela. A minha mão atravessou a carne e começou a emitir uma luz dourada, e quando achei que ia tocar no coração, eu senti algo muito forte e cheio de energia, foi quando minha mão parou. Minha mão estava tocando a alma daquela mulher e transmitindo a ela conforto e amor do meu pai. Assim que tirei minha mão, a mulher parou de gritar e também cessou o choro; ela assentou-se na cadeira que estivera outrora e voltou a orar.
_ Obrigado meu Deus, o Senhor ouviu minhas orações e atendeu. - Ela soluçava. - Eu achei que o Senhor mandaria a cura, mas percebo que foi melhor para ela partir para junto de Ti. - Ela tocava o rosto da casca. - Receba a minha filha aí no céu e cuida dela com carinho.
A menina olhou para mim, deu um sorriso largo e então passou pela porta na parede, começou a subir a escada e deu a mão aos anjos que aguardavam por ela, em seguida, a porta se fechou, e a parede voltou a ser o que era.
_ Nem tudo é fácil como eu pensei. - Eu disse alto.
Comecei a andar pelos corredores daquele hospital, mas não entrei em nenhum dos quartos. Passei pela porta da frente e quando saí do outro lado, eu já estava em uma ponte de ferro bem alta, e logo á minha frente, assentado no parapeito virado para o lado de fora, tinha um senhor de quarenta e sete anos. Me apressei para tocar nele e convencê-lo a desistir daquilo que ele pretendia fazer, mas antes de me aproximar, uma sombra entrou em minha frente e me empurrou.
_ Aqui não. - Disse a sombra dando uma gargalhada e depois se materializando. - Esse aqui vai ser nosso, nem adianta tentar impedir.
Sua fisionomia era de um humano, mas estava vestido de roupas pretas e seus olhos eram vermelhos. Eu tentei me aproximar novamente, mas ele abrira um par de asas negras e lançara uma rajada de forças das trevas contra mim, que me impedia de prosseguir.
_ Desista anjo, aqui você não vai vencer.
_ Quem é você? - Eu perguntei com autoridade.
_ Meu nome é Suicídio. - Ele gargalhou. - Sou uma Hoste Espiritual da Maldade, apesar de ser o último da Terceira Classe na hierarquia das trevas, eu sou muito bom no que faço. E já te digo, desista, porque esse homem é meu!
_ Engano seu espírito imundo. - Eu ergui a minha mão direita na direção dele. - Que o meu Pai te repreenda. - O meu brilho explodiu de mim e recaiu sobre o demônio, arrastando ele para longe dali.
Eu me aproximei do senhor que ali estava, e toquei nele, mas senti que aquilo não era suficiente, pois ele ainda assim pensava em suicidar-se. Eu me assentei no parapeito ao lado daquele homem e fechei meus olhos desejando que ele pudesse me ver.
_ Quem é você? - Disse o homem assustado. - Como apareceu aqui?
_ Olá! - Eu falei com voz serena e doce. - Me chamo Rafael, e estou aqui para te ajudar. - Eu sorri para ele, que me encarava. - Qual o seu nome?
_ João. - Ele me encarava ainda assustado. - Me chamo João.
_ Por que está aqui João?
_ Uma longa história. - Ele encarava o rio que passava em baixo de nós. - Estou cansado dessa vida sofrida que levo, e já está na hora de dar um fim a ela.
_ Claro que não João. Por mais dura e difícil que seja a vida que você leve, nada justifica você querer dar um fim a ela. - Eu toquei no ombro dele. - Pense bem, você é tão precioso é importante para o meu pai, que eu vim de outro lugar só para lutar por sua vida. E não falo no sentido figurado, falo no literal mesmo.
_ Seu pai que você fala é Deus?
_ Sim! É ele mesmo.
_ Você estava onde antes de aparecer aqui?
_ Eu estava em um hospital, quando vi você aqui. - Segurei na mão dele. - Chegando aqui, tive que lutar contra um demônio para ter acesso a você.
_ Você lutou por mim?
_ Sim! E a melhor forma de retribuir não seria você também lutar pela sua vida?
_ Sim Rafael, você está certo. - Ele desceu do parapeito e debruçou sobre ele apenas olhando pra baixo. - Se Deus está cuidando de mim assim, eu vou continuar lutando.
_ Que bom que escolheu o caminho certo. - Eu o encarei. - Não desista de lutar. Tenha isso sempre em seu coração. Deus é contigo. - Sabendo que ele agora estava seguro, toquei em sua cabeça e emiti um brilho forte, ficando invisível novamente em seguida.
_ Nossa, acho que dormi de olho aberto. O que eu estou fazendo aqui? - Disse João tentando se situar.
No momento que eu toquei na cabeça dele, o fiz esquecer que conversou comigo, mas garanti que a vontade do seu coração agora era de seguir em frente. João partiu para sua casa sem saber que eu estive ali com ele. Eu havia me virado para partir dali, quando comecei a sentir fortes presenças negativas. Olhei para trás e vi o demônio que eu havia expulsado dali, me encarando novamente, só que dessa vez ele não estava sozinho.
_ Então você achou que ia me mandar de volta para o inferno e ia ficar por isso mesmo? - O demônio gargalhou. - Agora você vai saber do que os demônios são capazes de fazer. - Ele gargalhou novamente. - Você não será capaz de nos deter.
Eles estavam em sete, e pareciam estar cheios de ódio e ira. A intenção dos espíritos imundos era uma só, me destruir; tentar pelo menos. Então ergui minhas duas mãos na direção deles e comecei a enviar energia de luz, mas eles se uniram e criaram uma barreira de sombra que impedia o meu ataque.
_ Acha mesmo que seus poderes são o suficiente contra nós sete? - Ele deu um grito de ódio e prepotência. - Pelo jeito você é novo por aqui! Dê uma olhada direitinho. - Mais uma gargalhada. - Eu sozinho me chamo Suicídio, mas quando estamos em sete, temos outro nome. - Um eco de gargalhadas começou a emanar deles e ressoar por todo o ambiente. - Agora me chamo Legião, porque somos muitos!

Então estreitei meus olhos e tive a clara visão de sete mil demônios agrupados e amontoados um próximo do outro, com olhos vermelhos, asas negras e muito ódio. Pensei em fugir, mas logo esse pensamento me deixou; então fechei meus olhos e desejei que meu pai estivesse vendo tudo aquilo. Sem perder tempo, Legião veio pra cima de mim, com garras enormes e dentes afiados, ansioso para me fazer em pedaços, mas aproximadamente a um metro de distância pôde-se ouvir um som de trombeta soar no céu, e então um barulho de muitas assas batendo vindo do alto. Logo rastros de fogo seguiram de cima e pousaram bem à minha frente. Eu sorri glorificando ao meu pai, pois diante de mim agora havia doze mil Potências, anjos que pertenciam ao segundo nível da Segunda Classe da hierarquia angelical; eles portavam espadas flamejantes e estavam todos dispostos a estraçalhar os demônios que ousassem vir contra nós e contra a vontade de nosso pai. Uma coisa era certa, uma batalha iria começar. 





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sábado, 12 de março de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 02 - A Adoração dos Tronos


Daniel e eu caminhamos por boa parte do paraíso, que também fiquei sabendo ser chamado pelo nosso pai de Jardim do Éden. Confesso que eu não queria sair dali, era um lugar esplêndido, tantas maravilhas que me faziam sentir alegre por fazer parte daquele mundo. Mas Daniel havia me dito que eu tinha uma grande missão, e que em breve eu descobriria como era importante que eu a cumprisse com satisfação.
Agora estávamos parados próximo de um grupo de anjos, que se posicionavam em um círculo; cada um deles segurava um instrumento, mas ainda não tocavam, apenas observavam outro anjo que vinha voando e pousara no meio deles, então Daniel me tocou dizendo.
_ Preste atenção neles e no que vai acontecer.
_ Quem são eles? - Eu perguntei querendo aumentar o meu conhecimento sobre as classes dos meus irmãos. - A que classe eles pertencem?
_ Eles são Tronos, estão no terceiro nível da Primeira Classe angelical; no comando dos anjos, são submissos apenas aos Serafins e Querubins. - Ele respirou suavemente e prosseguiu. - Eles são os principais responsáveis por cuidarem do trono do nosso pai, de mantê-lo limpo e organizado. Os Tronos também são os anjos que tocam as melodias que iniciam os louvores e adorações ao nosso criador. - Daniel pausou. - Preste atenção neles.
Quando encarei o grupo de Tronos novamente, o que havia pousado no meio deles, abriu suas quatro asas; emitiu um brilho intenso num tom branco azulado, porém bem mais límpido do que o brilho de Daniel; em seguida ele começou a falar bem alto.
_ Oh Rei, majestoso Senhor, que com Sua glória preenche os corações humanos de paz, e também nos inspira amor e obediência. Soberano Mestre, aclamamos o Teu nome nos mais altos montes, e anunciamos aos quatro cantos da Terra, que só o Senhor é rei.
Enquanto ele falava, um círculo de fogo se formou ao redor de todos eles, e nesse momento, os outros começaram a tocar. A melodia era tão pura e serena, que me encheu de vontade de adorar com eles; eu estava sendo impulsionado a me prostrar de joelhos no chão e aclamar o nome do meu criador. Enquanto eles tocavam, o círculo começou a subir ao céu acima de nossas cabeças, formando uma grandiosa e extensa coluna circular de fogo. Todos os anjos; sem exceção; se colocaram de joelhos e começaram a adorar ao nosso pai. Era incrível, as palavras vinham para os nossos lábios e saíam sincronizadas em forma de coro. E juntos começamos a proclamar.
_ Santíssimo És, enaltecido e engrandecido seja o Teu nome. Derrame sobre nós a Tua onipresença, e nos agracie com o Teu sublime toque. Necessitamos do Teu amor Senhor, para que continuemos a espalhar pelo mundo as Tuas perfeitas e grandiosas virtudes. Que o Teu reino seja eterno, e as Tuas vontades soberanas.
A partir daí, fez-se silêncio no paraíso, e então do alto, pelo lugar onde a coluna de fogo subiu, começou a descer uma luz branca; assim que essa luz chegou ao chão e tocou nos Tronos, houve uma grande luminosidade que explodiu e irradiou por todo o lugar. Aquela luz era tão pura e cheia de amor, que eu reconheci na hora; era a presença do nosso pai. O nosso clamor havia sido atendido, e Deus; assim conhecido pelos humanos; nos respondera com Sua presença e nos fortalecera com o Seu amor. Eu me sentia muito mais forte, e quando abri minhas asas, percebi que o meu brilho e energia estavam bem mais intensos. Então olhei para Daniel e vi que ele também havia sido fortalecido.
_ Isso acontece sempre Daniel?
_ A todo instante! - Suas palavras carregavam alegria. - Estamos constantemente adorando ao nosso pai.
_ E quanto aos anjos que estão em missão fora do paraíso? - Eu pausei. - Eles também recebem essa força?
_ Quanto aos anjos que estão fora daqui, funciona um pouco diferente. Aonde quer que eles estejam, só serão fortalecidos, quando eles clamarem ao nosso pai. A adoração deles é individual, e o pedido de fortalecimento é enviado de forma individual também.
_ Entendi!
_ Foi bom você tocar nesse assunto. Pois na Terra, você verá muita coisa, enfrentará muita coisa. Haverá dia em que você não terá força suficiente pra enfrentar sozinho uma situação, mas caberá a você pedir ajuda. - Ele fez uma pausa que me deixou receoso. - Encontrará anjos caídos, que lutam contra nós para poder destruir as criaturas do nosso pai. Mas não se preocupe, você levará consigo a sabedoria Dele, e saberá o que fazer na hora certa. - Daniel se aproximou de mim e me tocou novamente. - Pronto! Agora você está instruído em todas as coisas que precisa saber.
O que Daniel me disse era verdade, pois após ele ter me tocado, eu passei a saber de muito mais coisas do que eu sabia antes. Eu realmente me sentia preparado para a minha partida, e queria ir para cumprir o que o meu Senhor me ordenara fazer.
_ Pois bem irmão Daniel, eu vou partir, e estou muito feliz de ter recebido essa missão.
_ Vá com a paz do nosso pai, e faça um excelente trabalho.
_ Obrigado. - Eu olhei para ele. - Antes de partir eu queria saber de uma coisa!
_ Diga, se eu souber, terei o maior prazer em te responder.
_ Antes que eu acordasse e ouvisse a voz do nosso pai, onde eu estava e o que eu era?
_ Bem! - Ele fez uma pausa dramática, como se procurasse as palavras certas para me responder. - Você estava com o pai; você ainda era parte Dele. - Mais uma pausa. - Quando você acordou, o nosso pai tinha acabado de te dar vida, e logo em seguida ele te deu o seu nome.
_ Como assim eu ainda era parte Dele?
_ Você se lembra quando eu te disse que nós somos criados da energia do nosso criador?
_ Sim!
_ Então, Ele ainda não havia tirado parte da energia Dele para criar você. Por isso eu disse que você estava e era parte Dele.
_ Então é mesmo uma honra servi-lo e adora-lo.
_ Com toda certeza. - Disse Daniel sorrindo alto.
Eu me preparava para partir do paraíso, quando eu vi descer do alto; na velocidade de um cometa e deixando um rastro de luz mais clara que a dos Tronos; um anjo, que pousou em minha frente.
_ Você?! - Daniel disse com uma voz de surpresa.
_ Sim! Sou eu! - Disse o anjo que acabara de pousar.
_ Quem é você?
_ Olá Rafael! Eu sou um Querubim, o segundo da Primeira Classe na hierarquia angelical. Me chamo Raziel, e recebi ordens diretas de nosso pai de te entregar algo pessoalmente, antes que você partisse.
_ Me sinto honrado. E o que Ele mandou me entregar?
Raziel veio bem perto de mim e tocou em minha cabeça. Eu senti algo me queimando por dentro, como se eu fosse explodir, e quando eu achava que não ia suportar, Raziel cessou.
_ O que foi isso? - Eu perguntei com grande receio. - Quase me destruiu.
_ É algo muito precioso. - Disse o Querubim com voz firme. - Você recebeu uma sabedoria especial, algo que muitos outros anjos no seu nível não recebera antes. Porém essa sabedoria está oculta dentro de você, nos momentos exatos, ela começará a florescer. - Ele foi bem direto. - Cuide bem do conhecimento que o nosso pai te deu. - O Querubim se aproximou de mim novamente. - Agora vá.

Raziel concluiu me tocando mais uma vez, e quando eu pisquei os olhos, percebi que estava fora do paraíso, em um lugar bem diferente daquele que eu imaginara. Então eu tive a certeza que eu estava na Terra.




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quarta-feira, 9 de março de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 01 - Nascido no Paraíso


Eu acabara de acordar, e não conseguia ver nada, pois uma claridade extrema iluminava todo o ambiente; uma luz tão branca, que me fazia piscar incessantemente. Essa luz me tocava; ela era quente e transmitia muita  paz. Eu podia ouvir algo tocando no fundo, de forma harmônica e melódica; era o som de harpas; não sei como eu podia identificar, eu simplesmente sabia o que era aquilo. No fundo daquela claridade toda, e sobrepondo de forma soberana os sons das harpas, eu ouvi alguém falar; não era uma simples voz; era forte, firme, alta e bem clara como o som de trovão. Aquela voz vinha direto até mim e me penetrava como se me cortasse.
_ Olá meu filho! - Então a voz fez uma pausa tranquilizadora. - Eis que te darei o nome de Rafael.
_ Quem é você? - Eu fui impulsionado a perguntar. Pois apesar daquela voz ser forte e cortante, ela transmitia muito amor.
_ Sou o seu pai! Se prepare, em breve você receberá a sua missão.
Assim que aquela voz concluiu, a luz cessou, e então meus olhos começaram a acostumar com o ambiente. O lugar que eu estava era simplesmente incrível. Eu estava em uma pequena ilha suspensa no ar, ela era completamente feita de cristal, tão límpido, que ao receber um feixe de luz, iluminava todo o ambiente. Eu não entendia como eu sabia das coisas, mas eu simplesmente sabia. Eu cheguei à beirada dessa ilha e olhei para baixo; confesso que não consegui ver nada, pois eu estava muito distante do chão. Nesse momento senti um calor se aproximar pelas minhas costas, e percebi o ambiente se iluminar novamente; nada comparado com a luz e a sensação anterior; essa luz era um branco azulado, então eu me virei, e ela se aproximou de mim, parou em minha frente, e como num piscar de olhos, a claridade foi coberta por alguma coisa. Eram asas, a claridade foi abafada por várias lindas, longas e enormes asas brancas; aquele ser em minha frente tinha dois pares de asas, que cobriam todo o seu brilho.
_ Olá irmão Rafael, meu nome é Daniel, e estou aqui para te entregar sua graça.
_ Graça? - Falei confuso. - O que é isso e para que serve? - Eu pausei e antes que ele me respondesse eu prossegui. - E aliás, o que é você?
_ Tenha paciência irmão. - Ele sorriu alto. - Estou aqui para te explicar tudo sobre nós, este lugar e a sua missão.
_ Então continue. - Eu disse olhando para os pares de asas, pois eram as únicas coisas que eu conseguia ver. - Porque você não me mostra seu rosto?
_ Rafael, eu sou um anjo. Na verdade todos somos anjos. Temos classificações diferentes, mas isso você aprenderá mais na frente. Agora quero te explicar o básico. - Ele sorriu alto novamente. - Nós somos feitos da energia pura do nosso criador, o nosso pai.
_ Qual o nome dele? - Perguntei.
_ Ele tem muitos nomes. Ele se chama de O Grande Eu Sou, nós chamamos de pai, e para o lugar que você vai, Ele é muito conhecido pelo nome de Deus.
_ Então Deus, nosso pai, me criou da energia pura Dele?
_ Sim! Basicamente é isso. Essa energia que nos cria não tem forma, ela apenas irradia muita luz e calor.
_ E porque eu não brilho como você?
_ Porque você ainda não recebeu sua graça. A graça é vinda de nosso pai. Ela é um favor dado a nós, e essa graça é o que nos torna o que somos; anjos. - Ele se aproximou de mim e me tocou. - Recebe a graça que vem do nosso pai para você.
Então um calor sobrenatural me tomou por completo, e de mim começou a irradiar uma luz amarelo ouro. Eu senti as minhas costas rasgarem, e delas surgiu um par de asas brancas. Eu sem saber como fiz, por instinto, ajeitei minhas asas de forma que elas cobriram todo o meu brilho.
_ Por que eu só tenho duas asas, e você tem quatro?
_ Isso porque aqui no paraíso existe uma hierarquia angelical. Quanto mais asas, maior é o posto celestial.
_ E quantas asas tem o anjo de maior posto?
_ Seis asas! - Ele pausou. - Mas te confesso que os vi pouquíssimas vezes.
_ Por que? Eles são raros de ver?
_ Sim! Essa classe de anjo vive próximo do pai. Esses O veem constantemente. Têm esse privilégio, que nem todos nós temos. São os anjos mais antigos, se não os primeiros que foram criados. E acredito que não haja muito deles não, só conheço o nome de três, e um deles fora banido por toda a eternidade.
_ E quais são os nomes?
_ Lúcifer, Miguel e Gabriel! - Ele pausou, se aproximou de mim e me tocou novamente, e como em um piscar de olhos, toda a história sobre o banimento de Lúcifer passou a fazer parte de mim.
_ Se o pai me criou, para que eu existo?
_ Além de servi-lo e adora-lo, você será um anjo guardião.
_ Guardião de que?
_ Não é de que, e sim de quem. - Daniel sorriu alto. - Daqui algum tempo, você descerá à Terra e cuidará da vida das criaturas do nosso pai; os seres humanos.
_ Quem são eles?
_ São seres imperfeitos e mortais, mas que recebem a maior parte da atenção do nosso pai. - Ele fez uma pausa, respirou fundo e prosseguiu. - Mas eles são privilegiados, além de poderem escolher qual o caminho tomar de suas vidas, eles foram criados exatamente iguais à imagem e semelhança do nosso pai.
_ Que honra a deles.
_ Sim! Nós somos criados para servi-lo e adora-lo, sem questionar ou hesitar, mas eles têm algo poderoso que o pai chama de Livre Arbítrio. Essa palavra resume em fazer a escolha que quiserem sem que o nosso pai interfira.
_ E o que eles fizeram para merecer tanto do nosso pai?
_ Nada! Simplesmente recebem a graça do nosso pai, de graça. Não precisam fazer nada. - Ele abriu suas asas, e então sua luz irradiou o lugar. - Vamos descer até o solo, venha conhecer o paraíso antes de você partir.
_ Espere! Eu gostaria de saber sobre a hierarquia angelical. – Eu falei esperançoso.
_ Tudo bem, vou te explicar bem rapidamente e de forma superficial. – Daniel respirou fundo e então prosseguiu. - Somos divididos em nove tipos e em três classes diferentes. Na Primeira Classe estão os superiores, sendo eles; Serafins, Querubins e Tronos. Depois vem a Segunda Classe com as Dominações, Potências e Virtudes. Com exceção dos Serafins que têm seis asas, todos que eu citei até agora têm quatro asas como eu.
_ Você se enquadra em qual desses que citou? - Eu perguntei curioso.
_ Bem, eu faço parte das Virtudes, que tenho várias funções, mas que no momento é transmitir para os outros anjos aquilo que deve ser feito. - Ele pausou esperando que eu perguntasse algo, mas continuou quando percebeu que eu ficara em silêncio ouvindo. - Continuando. Por último e não significando que sejam menos importantes que os outros, vêm a Terceira Classe com os Principados, Arcanjos e Anjos, sendo que esses últimos todos têm duas asas. - Ele respirou fundo e continuou. - Está entendido?
_ Sim. Estou satisfeito.
_ Então vamos. Siga-me! - Disse a Virtude abrindo suas asas.
Daniel saltou da ilha de cristal e desceu até o solo de forma suave. Eu abri minhas asas e com um pouco de receio saltei, e como se eu fizesse aquilo há anos, eu voei até o solo onde Daniel me esperava. Começamos a andar pelo lugar, que era maravilhoso, com toda certeza era uma criação do nosso pai. Havia uma variedade incomum de árvores frutíferas e não frutíferas espalhadas pelo local; animais de várias espécies convivendo entre si de forma harmoniosa e em completa paz. Um rio de águas cristalinas corria no meio do lugar, separando-o em dois lados. Eu pude ver um tigre deitando na beira do rio e colocando uma de suas patas dentro da água de forma lenta e preguiçosa; ele não tinha outra intenção que não fosse apenas estar ali. Daniel e eu seguimos subindo rio acima até aonde pude avistar uma cachoeira muito alta, onde a queda d'Água irradiava um arco íris com cores tão fortes que pareciam estar vivas. Daniel me explicava tudo sobre o lugar; ele me ensinava o nome dos bichos e de cada árvore e fruta. Agora descíamos na direção oposta à cachoeira, e só paramos, quando chegamos a um local em que o rio banhava uma ilha que continha duas grandes e frondosas árvores. As duas eram frutíferas; uma fruta semelhante à maçã, mas ela tinha uma coloração dourada; já a outra, seu fruto era diferente de todos os outros tipos de frutas que havia ali, sendo assim impossível fazer uma comparação, e não era só isso que era diferente das demais, pois suas folhas eram cintilantes, como se na superfície de cada uma delas tivesse sido derramado pó de diamante; ela emanava uma força vital incrível, algo que nem o próprio Daniel tinha. Não bastasse essas árvores estarem separadas das outras e serem diferenciadas, elas também eram protegidas por anjos guerreiros, armados com espada que flamejava uma chama vermelho amarelada, foi esse fato que me fez questionar Daniel.
_ Por que essas árvores são diferentes, e são protegidas dessa maneira? - Eu me virei para ele. - Quem são ele e a qual tipo de anjos eles pertencem?
_ Aquelas são as árvores mais importantes do paraíso. - Daniel apontava para elas enquanto falava. - A árvore que a fruta é semelhante à maçã é a árvore que contém O Conhecimento do Bem e do Mal, já a outra é a Árvore da Vida. - Ele me explicava tudo com muito orgulho. - Elas são protegidas por anjos de Segunda Classe; os chamados Potências; e estão ali para que nenhum anjo ou animal ouse tocar nelas novamente.
_ E quem tocou nelas?
_ Uma das criaturas do nosso pai há muito tempo atrás comeu do fruto de uma delas, e então eles foram banidos do paraíso. Como não tenho tempo de te explicar, vou te mostrar. - Daniel se aproximou de mim e me tocou, e semelhante à história de Lúcifer, agora eu também sabia tudo sobre Adão e Eva. - Venha, tenho mais algumas coisas para te mostrar, antes que você siga para cumprir a sua missão.





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