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sábado, 2 de abril de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 04 – Apenas uma Batalha

Diante de tantos anjos e demônios, eu era o único que não estava armado. As Potências tinham espadas que flamejavam chamas vermelho amarelado e os demônios havia desenvolvido nas trevas, garras e dentes afiados o suficiente para cortar qualquer um em questão de segundos. A Legião havia cessado o ataque assim que viu o exército angelical que pousara bem à minha frente, mas isso não queria dizer que eles ainda não estavam dispostos a prosseguir com o ataque. Meus aliados eram quase o dobro de demônios, mas ainda assim eles persistiam ali, nos encarando e rosnando como cachorros bravos prestes a atacar algum intruso.
Nós, anjos, fomos criados com a essência de obediência e submissão, e dessa forma seguíamos as ordens que eram nos dadas sem questionar ou sequer hesitar um segundo sequer. Por essa razão, pude perceber que mesmo estando em maior número, as Potências estavam perdidas sem saber direito o que fazer. - Não acredito que estamos aqui com a chance de destruir esses espíritos imundos, mas não o faremos porque os meus aliados não sabem o que fazer. - Apenas pensei. As Potências se entre olhavam e ficavam aguardando algum deles tomar a frente no comando, e esse problema não fui só eu quem percebeu, pois a legião inimiga já começava a marchar na nossa direção, enquanto meus aliados apenas entravam em modo de defesa.
_ Paaaaaai! - Gritei em alto e bom som.
Não precisei continuar falando, pois meus pensamentos foram lidos, e agora uma luz muito clara e pura batera no chão, mas batera com tanta força, que gerou uma onda de impacto que jogou demônio para um lado e anjos para o outro. A luz ficava numa posição vertical e batia dois pares de asas brancas e enormes, que começavam a cobrir todo o brilho. Assim que a luz cessou, pude ver um anjo segurando uma espada dourada na mão direita; ela era adornada com fios de ouro branco nas suas extremidades e empunhadura, pedras preciosas lapidadas em um formato retangular de todas as cores possíveis seguindo uma fila que saía do capo da espada até sua ponta afiada, e no seu cabo, havia um diamante rosa, lapidado em uma forma circular; já na mão esquerda ele segurava um cetro de ouro com um anjo de quatro asas na ponta segurando um pergaminho aberto. - Que maravilha! – Eu me expressei encantado com o que eu estava vendo. O anjo estava de joelhos, e se colocando de pé, ele tomou uma postura imponente e de comando.
_ Perdoem-me meus irmãos pelo meu pouso desajeitado, tive que vir tão depressa, que quase não deu tempo de pousar. Por pouco eu furava essa matéria sólida abaixo de nós. - Ele se referia ao chão em sua forma literal. - Recebi ordens urgentes de nosso pai, e fui obrigado a usar dois quintos de minha velocidade.
Os anjos já eram bem rápidos voando na velocidade normal, e quando usavam um pouco mais de velocidade, ultrapassavam velocidades inimagináveis pelas criaturas de nosso pai.  Com toda certeza ele era um superior, pois quando pousou, as Potências demonstraram respeito.
_ Como o príncipe Camael está ocupado em outra missão dada pelo nosso pai, então eu tive que vir no lugar dele. - O anjo se posicionou para dar o comando de batalha.
Os príncipes eram os anjos superiores de uma classe de anjos. Cada grupo de anjo tinha o seu príncipe, aquele que era responsável pelo comando dos demais, mas isso era mesmo mera formalidade, pois mesmo sendo príncipes, eles também faziam missões individuais a qual não havia ninguém para eles comandarem. Camael, a quem ele se referiu, era o Príncipe das Potências, e eu presumi, que com aquela espada e cetro, aquele era o príncipe Tsadkiel, o líder responsável pelo comando das Dominações, os primeiros na Segunda Classe da hierarquia. Ele era rápido, e poderia ser muito mais, os únicos anjos mais rápidos que os da Segunda Classe eram os anjos da Primeira Classe, pois poderiam usar até o nível dez de velocidade, o que acredito nunca ter acontecido. Falando nisso, anjos no mais baixo nível da hierarquia; como eu; têm três níveis de velocidade, e raramente usamos o segundo nível; eu mesmo nunca usei; até porque sou novo nesse trabalho.
Eu mal terminara minhas observações e Tsadkiel ordenara o ataque contra os espíritos imundos, que por sua vez vinham bradando ruídos de fúria contra nós. A batalha mal havia começado, e eu já podia ver corpos de demônios estraçalhados em várias partes no chão, com os pedaços queimados por causa das espadas flamejantes das Potências. Aquilo era possível? Anjos tinham o poder de destruir os demônios? Eu achava que por serem espíritos, não poderiam ser destruídos, mas era evidente de que aquela classe com espadas flamejantes conseguiam despachar aqueles espíritos para algum outro lugar diferente da dimensão em que estávamos, pois os pedaços permaneciam no chão e não retornavam a levantar, e sequer apresentavam ter "vida". A Legião estava perdendo, e de forma esmagadora, mas havia algumas Potências feridas; alguns carregavam arranhões e feridas tão abertas que era possível ver a luz; que era do que todos nós éramos compostos; emanando da abertura das feridas. Eles estavam feridos, e pelo jeito, nós anjos, também podíamos nos ferir com aquelas garras horrendas dos demônios. Volta e meia um rastro de luz branca passava em minha frente, e quando eu parava pra olhar direito, era uma Potência arrastando vários demônios de uma só vez na ponta da sua espada. Tivemos uma vitória esmagadora; por onde quer que eu olhasse, havia corpos de demônios destruídos no chão. E ah, aquelas Potências que tinham se feriado, estavam sendo curados pela própria luz que emanava da ferida. Não éramos invencíveis, apenas difíceis de destruir; não seriam simples garras demoníacas  que acabariam conosco. Agora as Potências saltavam para o céu como um foguete saia de sua base de lançamento, e iam em alta velocidade deixando apenas um rastro de luz e energia pura. Várias já tinham partido quando Tsadkiel se aproximou de mim.
_ Você foi muito guerreiro. Parabéns.
_ Mas eu não fiz nada além de observar a batalha.
_ Justo! Você não tinha arma além de sua energia, mas ficou e encarou como um anjo guerreiro. - Ele guardou sua espada na bainha e ficou segurando apenas o cetro. - Não que eu precise reportar algo para o nosso pai, mas avisarei a Ele do ocorrido e de sua coragem.
_ Agradeço pelo elogio. Mas insisto em dizer que eu não fiz nada.
_ Tudo bem! - Ele ponderou. - Tenho mais tempo de existência do que você.  Eu já liderei muitas Dominações em várias batalhas; que não foram poucas, pois esse tipo de batalha é constante; e já vi muitos anjos armados se acovardarem diante de legiões demoníacas. - Ele me encarou. - Aceite o que eu te digo, você é muito corajoso. Bom trabalho. - Então Tsadkiel sorriu e olhou para o alto. - Nos vemos em breve. - Ele encerrou partindo como os demais, e eu continuei a minha missão.

Cerca de sessenta dias após a batalha contra a legião, eu estava olhando outro anjo cuidar de uma família, quando um anjo comum como eu, pousou em minha frente.
_ Você é o anjo Rafael?
_ Sim, sou eu! Posso ajudar em algo?
_ Não! Estou aqui para te dar um recado.
_ E qual é? Diga!
_ O Pai quer que você volte agora mesmo ao paraíso. - Ele ia saindo em direção ao outro anjo, mas voltou. - Ah, já ia deixando de falar; chegando ao paraíso, procure por Daniel, ele tem mais informações para você. - Ele pausou, e antes de se virar concluiu. - Isso é tudo. Agora pode ir!
Olhei para cima, abri minhas asas e saltei. Senti meu corpo deixar o chão em altíssima velocidade, e em segundos atravessar as constelações no espaço; também senti meu corpo deixar a aparência humana assim que adentrei ao paraíso, e minha luz voltou a emanar. Mal pisei no terreno sagrado, quando Daniel veio até mim.
_ Olá Rafael. - Sua voz era doce e amigável. - Ouvi falar de vc!
_ Oi Daniel, como está tudo por aqui?
_ Tudo na mesma. Na mais perfeita e santa paz. Como estão as coisas na Terra?
_ Estou me esforçando ao máximo para fazer um bom trabalho. O que você tem ouvido sobre mim aqui?
_ Fiquei sabendo de seu comportamento diante da batalha contra a legião, e que Tsadkiel ficou impressionado com isso. Ele chegou aqui e pediu uma audiência com o nosso Pai, que logo o recebeu.
_ E o que aconteceu?
_ O que aconteceu que ele reportou os fatos e te encheu de elogios.
_ E o que tem isso?
_ A verdade é que quando um príncipe elogia um subordinado, a tendência é que o elogiado seja elevado.
_ Elevado? - Eu me espantei. - Como assim? O que isso quer dizer?
_ Você foi convocado para retornar ao paraíso. O seu retorno é justamente para isso, você ser elevado.
_ Não sei o que isso quer dizer.
_ Você deixará de ser anjo e passará para um nível acima.
_ Isso quer dizer que... - Eu nem terminara de falar, e Tsadkiel apareceu com seu cetro de ouro.
_ Seja bem vindo Rafael.
_ Obrigado.
_ Vamos ser breves e objetivos. Pois tenho várias missões a realizar hoje, e não posso perder tempo.
_ Mas objetivo quanto a que?
_ Te elevar. Ser objetivo à sua elevação. - Ele se aproximou de mim, estendeu o cetro e tocou com ele em minha testa. - Anjo Rafael, eu, Príncipe Tsadkiel, comandante das Dominações, por ordem e permissão do nosso Pai, te elevo. Agora você deixa de ser Anjo para se tornar o Arcanjo Rafael. - Ele fez uma breve pausa. - Continue se esforçando, e chegará longe bem rápido.
Não tive nem tempo de agradecer e o príncipe partiu, tive menos tempo de assimilar a ideia, quando Daniel já chegou me abordando.
_ Bem, agora que você é um arcanjo, terá uma nova missão.
_ Já?
_ Sim! Nós somos muito ocupados, e não perdemos tempo. Nosso pai vê tudo, mas nos delega missões pra cobrir todo o espaço da Terra.
_ Entendi! Então me diga, o que devo fazer?
_ Sua missão é cuidar de uma mulher grávida, cujo a filha está prestes a nascer.
_ Mas cuidar dos humanos não é missão de anjo?
_ Cuidar dos humanos é missão de todos nós! Nunca se esqueça disso. Mas você deve ir e zelar por ela e a criança. E quando Lucy nascer, sua missão é focar nela. - Ele tocou em mim e se afastou.
_ Como sabe que ela se chamará Lucy?
_ Esse será o nome que você fará a mãe dar a ela.
_ Mas por quê eu farei ela dar o nome à filha? Onde está o livre arbítrio aí?
_ Essa criança é especial, e seu nome tem que ser esse. O nosso pai não interfere nas atitudes humanas, mas para que elas possam receber as bênçãos que Ele tem para eles, nosso pai os induz a se preparar para receber. - Ele me encarava. - Não questione, apenas obedeça. Agora vá.
Então eu desci do paraíso, e quando voltei à Terra, eu estava diante de uma mulher loira, com uma barriga enorme, trabalhando em um escritório como secretária de um médico. Apesar daquele barrigão todo, era possível notar que aquela mulher passava por dificuldades, pois ela era magra, pele seca e aparência sofrida. Me aproximei dela e olhei dentro de seus olhos, e então pude contemplar sua alma. Como eu suspeitava ela tinha uma vida muito sofrida e escassa, mas que carregava dentro de si um amor enorme pela sua filha. Me afastei dela um pouco e notei que havia um homem em pé no fundo daquela sala de espera; ele olhava diretamente para mim. - Isso não é possível. - Pensei. - Aquele homem consegue me ver? - O homem saiu da sala de forma apressada, como se não quisesse ser abordado por mim. Comecei a segui-lo, mas o mesmo não esperava por mim, sequer olhava para trás, então abri minhas asas e voei em alta velocidade e o interceptei segurando em seu braço.
_ Como você consegue me ver? Quem é você?
_ Então eles mandaram outro para me substituir?!
_ Como assim? Te substituir? Em que?
_ Enviaram você pra fazer o que eu fazia antes.
_ Quem é você? Como consegue me ver? - Perguntei olhando dentro dos olhos dele tentando ver sua alma, mas fiquei surpreso quando não achei alma nele. - O que é você?
_ Tentou achar algo que não tenho heim?! - Ele falou me confrontando. - Eu sou um anjo, assim como você!
_ Sou um arcanjo.
_ Então mandaram alguém superior a mim pra fazer o meu trabalho!
_ Mas como você pode ser um anjo, se eu não sinto a sua "graça"?
_ Isso ocorre porque eu perdi quase toda ela. - Sua expressão era de uma tristeza junto de conformidade. - Eu já fui um anjo muito forte, e durante anos fui o anjo da guarda de Camila.
_ Quem é Camila? O que aconteceu a você?
_ Camila é a mãe da criança que vai nascer.
_ A mãe de Lucy!
_ Então ela se chamará Lucy? Pelo jeito há interferências do alto escalão né? - Ele falou debochando. - Agora percebo que Clarisse é mesmo especial. - Ele sorriu e me encarou. - Antes que você pergunte quem é Clarisse, já vou logo dizendo que é o nome que Camila pretende dar a Lucy.
_ Não importa, recebi ordens e vou cumprir! - Falei com autoridade. - Não quero saber se haverá interferências divina ou não, pois não cabe a nós julgar. Mas me responda, o que aconteceu com você? Como perdeu a sua graça?
_ Eu me humanizei!
_ Como assim? - Eu falei gritando. - Isso é possível?
_ Sim! É tão possível, que há vários como eu aqui na Terra.
_ Como isso ocorre?
_ No início você age e aceita as ordens do alto sem questionar, mas com o tempo de convivência e proteção aos humanos, você passa a não obedecer cegamente, aí quando percebe, você violou a lei divina e passa então a perder a sua graça.
_ Não tem como recuperar a sua graça de volta não?
_ Tem sim, basta eu clamar ao nosso pai, e Ele me recolherá e levará ao paraíso para ser purificado.
_ E por quê então você não faz isso?
_ Porque eu não poderei mais voltar à Terra, e viver com os humanos, foi a melhor missão que eu já recebi. Não quero deixá-los. Principalmente deixar a Camila. - Ele hesitou por um instante e prosseguiu de cabeça baixa. - Ela é muito especial, e criei um vínculo muito forte a ela.
_ Você não se apaixonou por ela não né?
_ Sim! Acredito que esse foi o meu erro. Depois que isso aconteceu, eu não obedeci as ordens que eram me dadas de forma tão cega. Eu protegia Camila, até contra as ações de nossos irmãos anjos. - Ele começou a caminhar. - Agora enviaram você, e eu não poderei mais me aproximar dela.
_ Por que?
_ Um anjo quando se humaniza, perturba a ordem e harmonia celestial, fazendo com que as coisas boas que deveriam ocorrer ao protegido do anjo, passe a se tornar malefícios a ele. E você como o anjo protetor de Camila, não pode permitir que seja atacada por coisas ruins. - Ele suspirou. - Resumindo. Você terá que me destruir caso eu me aproxime dela novamente.
_ E isso é possível?
_ O que?
_ Um anjo pode ser destruído?
_ Abaixo de Deus, somente um anjo pode destruir o outro; mas é claro, desde que um seja mais forte. Se ambos tiverem a mesma força, só haverá ferimentos.
_ Demônios podem nos destruir?
_ Sim! Mas eles só conseguem destruir os anjos que estão enfraquecidos, quando os anjos estão fortes, é quase impossível disso acontecer.
_ Então quer dizer que você pode ser destruído por um demônio em sua situação atual?
_ De certa forma sim, mas tenho muita experiência em "viver" nesse mundo, então me destruir não é nada fácil. - Ele se afastava mais ainda antes de concluir. - Cuide bem deles, e tenha muito cuidado para não se humanizar como eu me humanizei. Viver cuidando de humanos pode nos causar sentimentos que não estamos habituados a conviver. - Ele me olhou como se tivesse despedindo de algo muito precioso. - Você saberá o que digo, e logo confrontará você mesmo diante de uma ordem que te pareça injusta. Adeus arcanjo, nos vemos por aí!
_ Adeus. Se cuida!

Então o anjo saiu de perto de mim, deixando eu ali observando minha nova missão. Camila estava em seu trabalho, mas parecia estar muito cansada, algo parecia anormal. Me aproximei para ajudá-la, quando a vi caindo desmaiada no chão. Tinha algo acontecendo, e eu estava disposto a agir, para protegê-la de qualquer ataque.


Continua no próximo capítulo...




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quarta-feira, 23 de março de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 03 -  Começando os Trabalhos


Ao sair do paraíso, me aterrissei na Terra em um beco escuro, sujo e fétido. Eu mal acabara de chegar, e já começava a sentir os efeitos do lugar, pois várias vozes vinham ao meu ouvido ao mesmo tempo, como se uma multidão estivesse em minha frente, mas na verdade ali não havia ninguém além de mim. Eu podia ouvir pessoas gritando, outras chorando; havia algumas bêbadas conversando, umas sorrindo e outras fazendo orações; todas essas vozes inundavam minha cabeça me fazendo ficar tonto. Então procurei focar a minha audição ali no local silencioso que eu estava, e aos poucos, as vozes foram sumindo e dando lugar ao silêncio que havia naquele beco. Já era noite, e passavam das vinte e três horas. Depois que eu comecei a ouvir normalmente, que fui reparar que meu brilho estava diminuindo, e assim persistiu até que eu pude ver que eu tinha um corpo; minhas asas estavam ocultas, e acredito que eu estava semelhante às criaturas de meu pai.
Resolvi sair daquele beco e ir em direção à rua que estava iluminada, e assim que eu saí do beco, dei de cara com um casal que veio em minha direção, e quando achei que eles iriam esbarrar em mim, simplesmente eles atravessaram através de meu corpo e continuaram seguindo como se nada houvesse ocorrido; foi então que percebi que eu era invisível aos olhos humanos.
_ Assim vai ser fácil fazer o meu trabalho. Posso observar qualquer um sem que eles saibam que eu estou aqui.  - Falei comigo mesmo em voz alta.
Comecei a seguir aquele casal, e fui cuidadosamente observando o comportamento deles. Poucos metros à frente de onde eu os encontrara, senti uma presença ruim; eu estreitei meus olhos e como mágica, minha visão foi ampliada a vários metros à frente, me permitindo enxergar um homem segurando uma arma na mão. Eu estava maravilhado de como meu pai havia me preparado e me dado o conhecimento de tudo no mundo dos humanos, e por essa razão, as coisas estavam fáceis para mim. Antes que o casal se aproximasse mais do provável assaltante, eu me movi mais rápido e passai na frente deles, assim que os dois se aproximaram de mim novamente, eu ergui minha mão e toquei na mulher. Ela parou, encarou o parceiro e disse.
_ Nossa, eu senti algo estranho.
_ Como assim? - Disse o rapaz.
_ Não sei. - Ela olhou para os lados e depois para trás. - Acho melhor a gente atravessar a rua, esse lado está meio escuro e pode ser perigoso.
_ Tudo bem.
Os dois deram as mãos novamente, atravessaram a rua e seguiram caminhando tranquilos e em paz.
Eu havia conseguido ajudar as primeiras criaturas de meu pai, e estava começando a gostar daquele trabalho. Eu me preparava para continuar andando por ali, quando uma voz veio forte e bem audível até mim.
_ Senhor, por favor, ajude minha filha, pois ela está sofrendo muito!
Fechei meus olhos, e quando os abri novamente, eu estava em um quarto de hospital vendo uma mulher debruçada sobre o corpo de uma criança que dormia em uma maca. Eu pude notar que ela estava muito doente, e também sofria com tudo aquilo. A mulher chorava e continuava orando.
_ Oh meu Deus, por favor, ajude minha pequenina. - Lágrimas escorriam cada vez mais. - O que ela fez pra merecer isso?
Vendo aquela cena, eu não sabia o que fazer, fiquei paralisado, apenas observando o fato. Mas em questão de segundos, uma luz esverdeada muito forte inundou o ambiente, e quando cessou, vi outro anjo além de mim naquele quarto de hospital.
_ Olá Rafael. Muito triste tudo isso né?
_ Sim! Mas eu não sei o que devo fazer. - Eu pausei e olhei para a mulher, depois prossegui. - Fui atraído até aqui, mas não sei o que devo fazer.
_ No momento certo você saberá, não se preocupe com isso.
_ Está certo. Qual o seu nome? Como me conhece?
_ Meu nome é Luziel! Eu sei seu nome. - Ele sorriu. - Você vai me perguntar como eu sei. É bem simples, anjos da Segunda Classe para cima, sabem o nome de todos os outros. - Luziel caminhou até a menina, e portando um cetro de ouro com uma pedra preciosa vermelha na ponta, tocou na menina.
_ O que você está fazendo?
_ Sigo ordens dadas pelo nosso pai. Ele ouviu o clamor da mãe dessa garota e me enviou para dar uma solução rápida a tudo isso. - Assim que tocou na garota com o cetro, ela parou de respirar, e desfaleceu. - Agora acabou.
Pude ver o espírito da menina deixando o corpo, colocando-se ao lado da mãe e dando um beijo nela. A garota me encarou, e sorriu, como se já soubesse o que viria a seguir. A mulher debruçada sobre o corpo sem vida parou de clamar, olhou para aquela casca, e então percebendo que ali não havia mais nada o que fazer, começou a gritar e chorar ainda mais alto de desespero e tristeza; ela sabia que sua filha havia morrido.
_ Você é o anjo da morte? - Eu perguntei para Luziel.
_ Não. - Ele sorriu para mim. - Sou o primeiro da Segunda Classe de anjos.
_ Então você pertence ao grupo das Dominações! - Eu afirmei com toda convicção.
_ Isso mesmo. Mas agora tenho que ir.
Luziel mal terminara de falar, e sumira num flash.  Segundos depois, a parede do quarto começou a tremer, descascar e se partir, abrindo uma enorme porta, que revelava uma escada dourada envolta em nuvens, nessa escadaria havia muitos anjos em vários degraus com as asas abertas, mãos estendidas e sorriso nos lábios. Eles chamavam pela jovem. A menina por sua vez me encarava, esperando que eu fizesse algo com o que estava acontecendo com a mãe dela, então eu caminhei até aquela mulher que estava inconsolável, e toquei no peito dela. A minha mão atravessou a carne e começou a emitir uma luz dourada, e quando achei que ia tocar no coração, eu senti algo muito forte e cheio de energia, foi quando minha mão parou. Minha mão estava tocando a alma daquela mulher e transmitindo a ela conforto e amor do meu pai. Assim que tirei minha mão, a mulher parou de gritar e também cessou o choro; ela assentou-se na cadeira que estivera outrora e voltou a orar.
_ Obrigado meu Deus, o Senhor ouviu minhas orações e atendeu. - Ela soluçava. - Eu achei que o Senhor mandaria a cura, mas percebo que foi melhor para ela partir para junto de Ti. - Ela tocava o rosto da casca. - Receba a minha filha aí no céu e cuida dela com carinho.
A menina olhou para mim, deu um sorriso largo e então passou pela porta na parede, começou a subir a escada e deu a mão aos anjos que aguardavam por ela, em seguida, a porta se fechou, e a parede voltou a ser o que era.
_ Nem tudo é fácil como eu pensei. - Eu disse alto.
Comecei a andar pelos corredores daquele hospital, mas não entrei em nenhum dos quartos. Passei pela porta da frente e quando saí do outro lado, eu já estava em uma ponte de ferro bem alta, e logo á minha frente, assentado no parapeito virado para o lado de fora, tinha um senhor de quarenta e sete anos. Me apressei para tocar nele e convencê-lo a desistir daquilo que ele pretendia fazer, mas antes de me aproximar, uma sombra entrou em minha frente e me empurrou.
_ Aqui não. - Disse a sombra dando uma gargalhada e depois se materializando. - Esse aqui vai ser nosso, nem adianta tentar impedir.
Sua fisionomia era de um humano, mas estava vestido de roupas pretas e seus olhos eram vermelhos. Eu tentei me aproximar novamente, mas ele abrira um par de asas negras e lançara uma rajada de forças das trevas contra mim, que me impedia de prosseguir.
_ Desista anjo, aqui você não vai vencer.
_ Quem é você? - Eu perguntei com autoridade.
_ Meu nome é Suicídio. - Ele gargalhou. - Sou uma Hoste Espiritual da Maldade, apesar de ser o último da Terceira Classe na hierarquia das trevas, eu sou muito bom no que faço. E já te digo, desista, porque esse homem é meu!
_ Engano seu espírito imundo. - Eu ergui a minha mão direita na direção dele. - Que o meu Pai te repreenda. - O meu brilho explodiu de mim e recaiu sobre o demônio, arrastando ele para longe dali.
Eu me aproximei do senhor que ali estava, e toquei nele, mas senti que aquilo não era suficiente, pois ele ainda assim pensava em suicidar-se. Eu me assentei no parapeito ao lado daquele homem e fechei meus olhos desejando que ele pudesse me ver.
_ Quem é você? - Disse o homem assustado. - Como apareceu aqui?
_ Olá! - Eu falei com voz serena e doce. - Me chamo Rafael, e estou aqui para te ajudar. - Eu sorri para ele, que me encarava. - Qual o seu nome?
_ João. - Ele me encarava ainda assustado. - Me chamo João.
_ Por que está aqui João?
_ Uma longa história. - Ele encarava o rio que passava em baixo de nós. - Estou cansado dessa vida sofrida que levo, e já está na hora de dar um fim a ela.
_ Claro que não João. Por mais dura e difícil que seja a vida que você leve, nada justifica você querer dar um fim a ela. - Eu toquei no ombro dele. - Pense bem, você é tão precioso é importante para o meu pai, que eu vim de outro lugar só para lutar por sua vida. E não falo no sentido figurado, falo no literal mesmo.
_ Seu pai que você fala é Deus?
_ Sim! É ele mesmo.
_ Você estava onde antes de aparecer aqui?
_ Eu estava em um hospital, quando vi você aqui. - Segurei na mão dele. - Chegando aqui, tive que lutar contra um demônio para ter acesso a você.
_ Você lutou por mim?
_ Sim! E a melhor forma de retribuir não seria você também lutar pela sua vida?
_ Sim Rafael, você está certo. - Ele desceu do parapeito e debruçou sobre ele apenas olhando pra baixo. - Se Deus está cuidando de mim assim, eu vou continuar lutando.
_ Que bom que escolheu o caminho certo. - Eu o encarei. - Não desista de lutar. Tenha isso sempre em seu coração. Deus é contigo. - Sabendo que ele agora estava seguro, toquei em sua cabeça e emiti um brilho forte, ficando invisível novamente em seguida.
_ Nossa, acho que dormi de olho aberto. O que eu estou fazendo aqui? - Disse João tentando se situar.
No momento que eu toquei na cabeça dele, o fiz esquecer que conversou comigo, mas garanti que a vontade do seu coração agora era de seguir em frente. João partiu para sua casa sem saber que eu estive ali com ele. Eu havia me virado para partir dali, quando comecei a sentir fortes presenças negativas. Olhei para trás e vi o demônio que eu havia expulsado dali, me encarando novamente, só que dessa vez ele não estava sozinho.
_ Então você achou que ia me mandar de volta para o inferno e ia ficar por isso mesmo? - O demônio gargalhou. - Agora você vai saber do que os demônios são capazes de fazer. - Ele gargalhou novamente. - Você não será capaz de nos deter.
Eles estavam em sete, e pareciam estar cheios de ódio e ira. A intenção dos espíritos imundos era uma só, me destruir; tentar pelo menos. Então ergui minhas duas mãos na direção deles e comecei a enviar energia de luz, mas eles se uniram e criaram uma barreira de sombra que impedia o meu ataque.
_ Acha mesmo que seus poderes são o suficiente contra nós sete? - Ele deu um grito de ódio e prepotência. - Pelo jeito você é novo por aqui! Dê uma olhada direitinho. - Mais uma gargalhada. - Eu sozinho me chamo Suicídio, mas quando estamos em sete, temos outro nome. - Um eco de gargalhadas começou a emanar deles e ressoar por todo o ambiente. - Agora me chamo Legião, porque somos muitos!

Então estreitei meus olhos e tive a clara visão de sete mil demônios agrupados e amontoados um próximo do outro, com olhos vermelhos, asas negras e muito ódio. Pensei em fugir, mas logo esse pensamento me deixou; então fechei meus olhos e desejei que meu pai estivesse vendo tudo aquilo. Sem perder tempo, Legião veio pra cima de mim, com garras enormes e dentes afiados, ansioso para me fazer em pedaços, mas aproximadamente a um metro de distância pôde-se ouvir um som de trombeta soar no céu, e então um barulho de muitas assas batendo vindo do alto. Logo rastros de fogo seguiram de cima e pousaram bem à minha frente. Eu sorri glorificando ao meu pai, pois diante de mim agora havia doze mil Potências, anjos que pertenciam ao segundo nível da Segunda Classe da hierarquia angelical; eles portavam espadas flamejantes e estavam todos dispostos a estraçalhar os demônios que ousassem vir contra nós e contra a vontade de nosso pai. Uma coisa era certa, uma batalha iria começar. 





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sábado, 12 de março de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 02 - A Adoração dos Tronos


Daniel e eu caminhamos por boa parte do paraíso, que também fiquei sabendo ser chamado pelo nosso pai de Jardim do Éden. Confesso que eu não queria sair dali, era um lugar esplêndido, tantas maravilhas que me faziam sentir alegre por fazer parte daquele mundo. Mas Daniel havia me dito que eu tinha uma grande missão, e que em breve eu descobriria como era importante que eu a cumprisse com satisfação.
Agora estávamos parados próximo de um grupo de anjos, que se posicionavam em um círculo; cada um deles segurava um instrumento, mas ainda não tocavam, apenas observavam outro anjo que vinha voando e pousara no meio deles, então Daniel me tocou dizendo.
_ Preste atenção neles e no que vai acontecer.
_ Quem são eles? - Eu perguntei querendo aumentar o meu conhecimento sobre as classes dos meus irmãos. - A que classe eles pertencem?
_ Eles são Tronos, estão no terceiro nível da Primeira Classe angelical; no comando dos anjos, são submissos apenas aos Serafins e Querubins. - Ele respirou suavemente e prosseguiu. - Eles são os principais responsáveis por cuidarem do trono do nosso pai, de mantê-lo limpo e organizado. Os Tronos também são os anjos que tocam as melodias que iniciam os louvores e adorações ao nosso criador. - Daniel pausou. - Preste atenção neles.
Quando encarei o grupo de Tronos novamente, o que havia pousado no meio deles, abriu suas quatro asas; emitiu um brilho intenso num tom branco azulado, porém bem mais límpido do que o brilho de Daniel; em seguida ele começou a falar bem alto.
_ Oh Rei, majestoso Senhor, que com Sua glória preenche os corações humanos de paz, e também nos inspira amor e obediência. Soberano Mestre, aclamamos o Teu nome nos mais altos montes, e anunciamos aos quatro cantos da Terra, que só o Senhor é rei.
Enquanto ele falava, um círculo de fogo se formou ao redor de todos eles, e nesse momento, os outros começaram a tocar. A melodia era tão pura e serena, que me encheu de vontade de adorar com eles; eu estava sendo impulsionado a me prostrar de joelhos no chão e aclamar o nome do meu criador. Enquanto eles tocavam, o círculo começou a subir ao céu acima de nossas cabeças, formando uma grandiosa e extensa coluna circular de fogo. Todos os anjos; sem exceção; se colocaram de joelhos e começaram a adorar ao nosso pai. Era incrível, as palavras vinham para os nossos lábios e saíam sincronizadas em forma de coro. E juntos começamos a proclamar.
_ Santíssimo És, enaltecido e engrandecido seja o Teu nome. Derrame sobre nós a Tua onipresença, e nos agracie com o Teu sublime toque. Necessitamos do Teu amor Senhor, para que continuemos a espalhar pelo mundo as Tuas perfeitas e grandiosas virtudes. Que o Teu reino seja eterno, e as Tuas vontades soberanas.
A partir daí, fez-se silêncio no paraíso, e então do alto, pelo lugar onde a coluna de fogo subiu, começou a descer uma luz branca; assim que essa luz chegou ao chão e tocou nos Tronos, houve uma grande luminosidade que explodiu e irradiou por todo o lugar. Aquela luz era tão pura e cheia de amor, que eu reconheci na hora; era a presença do nosso pai. O nosso clamor havia sido atendido, e Deus; assim conhecido pelos humanos; nos respondera com Sua presença e nos fortalecera com o Seu amor. Eu me sentia muito mais forte, e quando abri minhas asas, percebi que o meu brilho e energia estavam bem mais intensos. Então olhei para Daniel e vi que ele também havia sido fortalecido.
_ Isso acontece sempre Daniel?
_ A todo instante! - Suas palavras carregavam alegria. - Estamos constantemente adorando ao nosso pai.
_ E quanto aos anjos que estão em missão fora do paraíso? - Eu pausei. - Eles também recebem essa força?
_ Quanto aos anjos que estão fora daqui, funciona um pouco diferente. Aonde quer que eles estejam, só serão fortalecidos, quando eles clamarem ao nosso pai. A adoração deles é individual, e o pedido de fortalecimento é enviado de forma individual também.
_ Entendi!
_ Foi bom você tocar nesse assunto. Pois na Terra, você verá muita coisa, enfrentará muita coisa. Haverá dia em que você não terá força suficiente pra enfrentar sozinho uma situação, mas caberá a você pedir ajuda. - Ele fez uma pausa que me deixou receoso. - Encontrará anjos caídos, que lutam contra nós para poder destruir as criaturas do nosso pai. Mas não se preocupe, você levará consigo a sabedoria Dele, e saberá o que fazer na hora certa. - Daniel se aproximou de mim e me tocou novamente. - Pronto! Agora você está instruído em todas as coisas que precisa saber.
O que Daniel me disse era verdade, pois após ele ter me tocado, eu passei a saber de muito mais coisas do que eu sabia antes. Eu realmente me sentia preparado para a minha partida, e queria ir para cumprir o que o meu Senhor me ordenara fazer.
_ Pois bem irmão Daniel, eu vou partir, e estou muito feliz de ter recebido essa missão.
_ Vá com a paz do nosso pai, e faça um excelente trabalho.
_ Obrigado. - Eu olhei para ele. - Antes de partir eu queria saber de uma coisa!
_ Diga, se eu souber, terei o maior prazer em te responder.
_ Antes que eu acordasse e ouvisse a voz do nosso pai, onde eu estava e o que eu era?
_ Bem! - Ele fez uma pausa dramática, como se procurasse as palavras certas para me responder. - Você estava com o pai; você ainda era parte Dele. - Mais uma pausa. - Quando você acordou, o nosso pai tinha acabado de te dar vida, e logo em seguida ele te deu o seu nome.
_ Como assim eu ainda era parte Dele?
_ Você se lembra quando eu te disse que nós somos criados da energia do nosso criador?
_ Sim!
_ Então, Ele ainda não havia tirado parte da energia Dele para criar você. Por isso eu disse que você estava e era parte Dele.
_ Então é mesmo uma honra servi-lo e adora-lo.
_ Com toda certeza. - Disse Daniel sorrindo alto.
Eu me preparava para partir do paraíso, quando eu vi descer do alto; na velocidade de um cometa e deixando um rastro de luz mais clara que a dos Tronos; um anjo, que pousou em minha frente.
_ Você?! - Daniel disse com uma voz de surpresa.
_ Sim! Sou eu! - Disse o anjo que acabara de pousar.
_ Quem é você?
_ Olá Rafael! Eu sou um Querubim, o segundo da Primeira Classe na hierarquia angelical. Me chamo Raziel, e recebi ordens diretas de nosso pai de te entregar algo pessoalmente, antes que você partisse.
_ Me sinto honrado. E o que Ele mandou me entregar?
Raziel veio bem perto de mim e tocou em minha cabeça. Eu senti algo me queimando por dentro, como se eu fosse explodir, e quando eu achava que não ia suportar, Raziel cessou.
_ O que foi isso? - Eu perguntei com grande receio. - Quase me destruiu.
_ É algo muito precioso. - Disse o Querubim com voz firme. - Você recebeu uma sabedoria especial, algo que muitos outros anjos no seu nível não recebera antes. Porém essa sabedoria está oculta dentro de você, nos momentos exatos, ela começará a florescer. - Ele foi bem direto. - Cuide bem do conhecimento que o nosso pai te deu. - O Querubim se aproximou de mim novamente. - Agora vá.

Raziel concluiu me tocando mais uma vez, e quando eu pisquei os olhos, percebi que estava fora do paraíso, em um lugar bem diferente daquele que eu imaginara. Então eu tive a certeza que eu estava na Terra.




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quarta-feira, 9 de março de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 01 - Nascido no Paraíso


Eu acabara de acordar, e não conseguia ver nada, pois uma claridade extrema iluminava todo o ambiente; uma luz tão branca, que me fazia piscar incessantemente. Essa luz me tocava; ela era quente e transmitia muita  paz. Eu podia ouvir algo tocando no fundo, de forma harmônica e melódica; era o som de harpas; não sei como eu podia identificar, eu simplesmente sabia o que era aquilo. No fundo daquela claridade toda, e sobrepondo de forma soberana os sons das harpas, eu ouvi alguém falar; não era uma simples voz; era forte, firme, alta e bem clara como o som de trovão. Aquela voz vinha direto até mim e me penetrava como se me cortasse.
_ Olá meu filho! - Então a voz fez uma pausa tranquilizadora. - Eis que te darei o nome de Rafael.
_ Quem é você? - Eu fui impulsionado a perguntar. Pois apesar daquela voz ser forte e cortante, ela transmitia muito amor.
_ Sou o seu pai! Se prepare, em breve você receberá a sua missão.
Assim que aquela voz concluiu, a luz cessou, e então meus olhos começaram a acostumar com o ambiente. O lugar que eu estava era simplesmente incrível. Eu estava em uma pequena ilha suspensa no ar, ela era completamente feita de cristal, tão límpido, que ao receber um feixe de luz, iluminava todo o ambiente. Eu não entendia como eu sabia das coisas, mas eu simplesmente sabia. Eu cheguei à beirada dessa ilha e olhei para baixo; confesso que não consegui ver nada, pois eu estava muito distante do chão. Nesse momento senti um calor se aproximar pelas minhas costas, e percebi o ambiente se iluminar novamente; nada comparado com a luz e a sensação anterior; essa luz era um branco azulado, então eu me virei, e ela se aproximou de mim, parou em minha frente, e como num piscar de olhos, a claridade foi coberta por alguma coisa. Eram asas, a claridade foi abafada por várias lindas, longas e enormes asas brancas; aquele ser em minha frente tinha dois pares de asas, que cobriam todo o seu brilho.
_ Olá irmão Rafael, meu nome é Daniel, e estou aqui para te entregar sua graça.
_ Graça? - Falei confuso. - O que é isso e para que serve? - Eu pausei e antes que ele me respondesse eu prossegui. - E aliás, o que é você?
_ Tenha paciência irmão. - Ele sorriu alto. - Estou aqui para te explicar tudo sobre nós, este lugar e a sua missão.
_ Então continue. - Eu disse olhando para os pares de asas, pois eram as únicas coisas que eu conseguia ver. - Porque você não me mostra seu rosto?
_ Rafael, eu sou um anjo. Na verdade todos somos anjos. Temos classificações diferentes, mas isso você aprenderá mais na frente. Agora quero te explicar o básico. - Ele sorriu alto novamente. - Nós somos feitos da energia pura do nosso criador, o nosso pai.
_ Qual o nome dele? - Perguntei.
_ Ele tem muitos nomes. Ele se chama de O Grande Eu Sou, nós chamamos de pai, e para o lugar que você vai, Ele é muito conhecido pelo nome de Deus.
_ Então Deus, nosso pai, me criou da energia pura Dele?
_ Sim! Basicamente é isso. Essa energia que nos cria não tem forma, ela apenas irradia muita luz e calor.
_ E porque eu não brilho como você?
_ Porque você ainda não recebeu sua graça. A graça é vinda de nosso pai. Ela é um favor dado a nós, e essa graça é o que nos torna o que somos; anjos. - Ele se aproximou de mim e me tocou. - Recebe a graça que vem do nosso pai para você.
Então um calor sobrenatural me tomou por completo, e de mim começou a irradiar uma luz amarelo ouro. Eu senti as minhas costas rasgarem, e delas surgiu um par de asas brancas. Eu sem saber como fiz, por instinto, ajeitei minhas asas de forma que elas cobriram todo o meu brilho.
_ Por que eu só tenho duas asas, e você tem quatro?
_ Isso porque aqui no paraíso existe uma hierarquia angelical. Quanto mais asas, maior é o posto celestial.
_ E quantas asas tem o anjo de maior posto?
_ Seis asas! - Ele pausou. - Mas te confesso que os vi pouquíssimas vezes.
_ Por que? Eles são raros de ver?
_ Sim! Essa classe de anjo vive próximo do pai. Esses O veem constantemente. Têm esse privilégio, que nem todos nós temos. São os anjos mais antigos, se não os primeiros que foram criados. E acredito que não haja muito deles não, só conheço o nome de três, e um deles fora banido por toda a eternidade.
_ E quais são os nomes?
_ Lúcifer, Miguel e Gabriel! - Ele pausou, se aproximou de mim e me tocou novamente, e como em um piscar de olhos, toda a história sobre o banimento de Lúcifer passou a fazer parte de mim.
_ Se o pai me criou, para que eu existo?
_ Além de servi-lo e adora-lo, você será um anjo guardião.
_ Guardião de que?
_ Não é de que, e sim de quem. - Daniel sorriu alto. - Daqui algum tempo, você descerá à Terra e cuidará da vida das criaturas do nosso pai; os seres humanos.
_ Quem são eles?
_ São seres imperfeitos e mortais, mas que recebem a maior parte da atenção do nosso pai. - Ele fez uma pausa, respirou fundo e prosseguiu. - Mas eles são privilegiados, além de poderem escolher qual o caminho tomar de suas vidas, eles foram criados exatamente iguais à imagem e semelhança do nosso pai.
_ Que honra a deles.
_ Sim! Nós somos criados para servi-lo e adora-lo, sem questionar ou hesitar, mas eles têm algo poderoso que o pai chama de Livre Arbítrio. Essa palavra resume em fazer a escolha que quiserem sem que o nosso pai interfira.
_ E o que eles fizeram para merecer tanto do nosso pai?
_ Nada! Simplesmente recebem a graça do nosso pai, de graça. Não precisam fazer nada. - Ele abriu suas asas, e então sua luz irradiou o lugar. - Vamos descer até o solo, venha conhecer o paraíso antes de você partir.
_ Espere! Eu gostaria de saber sobre a hierarquia angelical. – Eu falei esperançoso.
_ Tudo bem, vou te explicar bem rapidamente e de forma superficial. – Daniel respirou fundo e então prosseguiu. - Somos divididos em nove tipos e em três classes diferentes. Na Primeira Classe estão os superiores, sendo eles; Serafins, Querubins e Tronos. Depois vem a Segunda Classe com as Dominações, Potências e Virtudes. Com exceção dos Serafins que têm seis asas, todos que eu citei até agora têm quatro asas como eu.
_ Você se enquadra em qual desses que citou? - Eu perguntei curioso.
_ Bem, eu faço parte das Virtudes, que tenho várias funções, mas que no momento é transmitir para os outros anjos aquilo que deve ser feito. - Ele pausou esperando que eu perguntasse algo, mas continuou quando percebeu que eu ficara em silêncio ouvindo. - Continuando. Por último e não significando que sejam menos importantes que os outros, vêm a Terceira Classe com os Principados, Arcanjos e Anjos, sendo que esses últimos todos têm duas asas. - Ele respirou fundo e continuou. - Está entendido?
_ Sim. Estou satisfeito.
_ Então vamos. Siga-me! - Disse a Virtude abrindo suas asas.
Daniel saltou da ilha de cristal e desceu até o solo de forma suave. Eu abri minhas asas e com um pouco de receio saltei, e como se eu fizesse aquilo há anos, eu voei até o solo onde Daniel me esperava. Começamos a andar pelo lugar, que era maravilhoso, com toda certeza era uma criação do nosso pai. Havia uma variedade incomum de árvores frutíferas e não frutíferas espalhadas pelo local; animais de várias espécies convivendo entre si de forma harmoniosa e em completa paz. Um rio de águas cristalinas corria no meio do lugar, separando-o em dois lados. Eu pude ver um tigre deitando na beira do rio e colocando uma de suas patas dentro da água de forma lenta e preguiçosa; ele não tinha outra intenção que não fosse apenas estar ali. Daniel e eu seguimos subindo rio acima até aonde pude avistar uma cachoeira muito alta, onde a queda d'Água irradiava um arco íris com cores tão fortes que pareciam estar vivas. Daniel me explicava tudo sobre o lugar; ele me ensinava o nome dos bichos e de cada árvore e fruta. Agora descíamos na direção oposta à cachoeira, e só paramos, quando chegamos a um local em que o rio banhava uma ilha que continha duas grandes e frondosas árvores. As duas eram frutíferas; uma fruta semelhante à maçã, mas ela tinha uma coloração dourada; já a outra, seu fruto era diferente de todos os outros tipos de frutas que havia ali, sendo assim impossível fazer uma comparação, e não era só isso que era diferente das demais, pois suas folhas eram cintilantes, como se na superfície de cada uma delas tivesse sido derramado pó de diamante; ela emanava uma força vital incrível, algo que nem o próprio Daniel tinha. Não bastasse essas árvores estarem separadas das outras e serem diferenciadas, elas também eram protegidas por anjos guerreiros, armados com espada que flamejava uma chama vermelho amarelada, foi esse fato que me fez questionar Daniel.
_ Por que essas árvores são diferentes, e são protegidas dessa maneira? - Eu me virei para ele. - Quem são ele e a qual tipo de anjos eles pertencem?
_ Aquelas são as árvores mais importantes do paraíso. - Daniel apontava para elas enquanto falava. - A árvore que a fruta é semelhante à maçã é a árvore que contém O Conhecimento do Bem e do Mal, já a outra é a Árvore da Vida. - Ele me explicava tudo com muito orgulho. - Elas são protegidas por anjos de Segunda Classe; os chamados Potências; e estão ali para que nenhum anjo ou animal ouse tocar nelas novamente.
_ E quem tocou nelas?
_ Uma das criaturas do nosso pai há muito tempo atrás comeu do fruto de uma delas, e então eles foram banidos do paraíso. Como não tenho tempo de te explicar, vou te mostrar. - Daniel se aproximou de mim e me tocou, e semelhante à história de Lúcifer, agora eu também sabia tudo sobre Adão e Eva. - Venha, tenho mais algumas coisas para te mostrar, antes que você siga para cumprir a sua missão.





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domingo, 28 de fevereiro de 2016

O Trono de Diamante - Final

O Doce Sabor da Vitória



     Ainda um pouco tonta e com a boca seca, Fharelyn foi direto até a jarra com água na mesa do seu quarto e bebera dois copos cheios daquele líquido incolor; depois ela deitou na cama torcendo que o mal estar que ela estava sentindo  desaparecesse por completo. A decisão dos organizadores do torneio demorou cerca de uma hora; tempo esse que Fharelyn usou para cochilar um pouco. Ela começava a sonhar quando alguém bateu na porta e pediu que ela se apresentasse no local do torneio. Então ela levantou-se e viu tudo girar em sua frente causado pela tonteira. Mesmo assim ela foi até o banheiro, lavou seu rosto e seguiu para o local ordenado. O guerreiro do gelo chegou praticamente junto de Fhatelyn, e assim que ela se posicionou diante da anfitriã, Cristália fez um pronunciamento.
     _ Meus caros guerreiros. - Ela fez uma pausa enfática. - É com grande pesar que anuncio a retirada do membro da Tribo da Mina do torneio. - Ela encarava os guerreiros. - Ele teve um súbito mal estar e está impossibilitado de prosseguir com a disputa. - Cristália sorriu e olhou para o povo presente. - Então devo informar que a Arena da Mina será retirada da disputa, restando agora apenas mais uma arena, que evidentemente é a Arena do Gelo. - Olhando novamente para os guerreiros ela prosseguiu. - Guerreiros queiram seguir para o local da próxima prova. 
     Jordarian saiu correndo na frente, enquanto Fharelyn ia com calma. A arena do gelo era obviamente muito fria, e toda branca. Camadas espessas de gelo cobriam as paredes e chão; o teto era de vidro, mas grandes estalactites se penduravam dando uma beleza incomum ao lugar. A guerreira olhou ao redor antes de entrar e certificou se Jordarian não estava próximo, mas também não conseguia visualizá-lo. Ela começou a andar com cautela; primeiro para não ser pega de surpresa e segundo porque o chão era muito escorregadio. Ela mal conseguia se mover; cada passo demorava quase um minuto. Ela procurava uma maneira de caminhar, quando viu um vulto passar em sua frente em alta velocidade. Era Jordarian, ele calçava botas especiais para gelo, e ainda tinha a vantagem da arena, pois como ele era nascido na Tribo do Gelo, ele tinha a habilidade de se mover com grande destreza sobre o piso congelado. Ele passou por ela sorrindo e apontando para o alto.
     _ Olha lá! - Disse Jordarian apontando para a bandeira que estava afixada em uma das estalactites no teto. - Vou lá buscá-la e já volto para tomar a sua braçadeira.
     Fharelyn não disse nada, apenas seguia Jordarian com os olhos. Assim que o guerreiro do gelo parou em baixo da bandeira, e estudava uma maneira de pegá-la, a jovem pegou sua besta; amarrou a corda que carregava em uma flecha e armou. Fharelyn mirou na estalactite que portava a bandeira e disparou. O tiro foi direto na base entre o teto e a estalactite, e sem demora ela puxou a corda que estava presa junto à flecha. Fharelyn agora se movia com segurança e rapidez através da corda que a permitia fazer isso; mas seu adversário vendo o que ela fazia, pendurou-se na corda; a jovem escorregou e bateu a bunda no chão, enquanto a estalactite se desprendera do teto e caíra ao chão se desfazendo em vários pedaços e libertando a bandeira da arena. Assim que Fharelyn avistou Jordarian com a bandeira na mão e vindo em sua direção, ela segurou na corda e a esticou, fazendo com que o guerreiro do gelo se embolasse e caísse de cara no piso congelado. Rapidamente a jovem cortou a corda com o canivete, amarrou a ponta cortada em uma nova flecha, e disparou em direção à bandeira na mão de Jordarian; ela acertara no alvo, e imediatamente puxara a bandeira que veio voando diretamente para sua mão. Agora Fharelyn se virava em direção à saída, armara sua besta novamente e disparara a mesma flecha com a corda na parede que tinha a porta de saída. Tudo estava certo, e a vitória já era evidente; no exato momento que a jovem puxou a corda para se impulsionar até a saída; uma tonteira muito mais forte que as anteriores embaçou a visão da guerreira e a levou desmaiada ao chão. Jordarian vendo que a sorte bateu em sua porta, resolveu se aproveitar daquela situação; o jovem guerreiro levantou-se do piso congelado e com muita tranquilidade caminhou até Fharelyn que estava apagada; ele se apossou da faixa e da bandeira que a jovem portava, e triunfante saiu da arena e seguiu até o local para entrega. 
     Após a entrega da bandeira e do bracelete, Jordarian somou mais quinze pontos, totalizando vinte pontos, contra dez pontos de Fharelyn. Agora Cristália chegava para o povo que esperava um pronunciamento.
     _ Meus caros presentes, é com imenso prazer que venho anunciar o resultado do Torneio Diamantyne. - Nesse momento o povo gritava e fazia muito barulho comemorando o fim do torneio, e após um sinal dela, eles se calaram. - O torneio finalizou e tudo ocorreu tranquilamente como esperado. Temos extraoficialmente o novo Sr. Diamantyne. - Ela sorria muito. - Alcançando o total de vinte pontos nas duas arenas disputadas, o novo Sr. Diamantyne é Jordarian, um membro da Tribo do Gelo.
     A comemoração agora foi ainda maior apesar de que os membros das outros duas tribos se retiravam calados e decepcionados; mesmo sem o jovem guerreiro da mina na disputa, alguns membros daquela tribo permaneceram na esperança de que Fharelyn ganhasse e mudasse o modo de governo da Tribo do Gelo. Mas agora Jordarian se encaminhava até o Palácio de Cristal para ser coroado o novo rei; para se transformar no Sr. Diamantyne.


     Cerca de uma semana depois do torneio, Fharelyn andava pela tribo de cabeça baixa, pois com exceção de sua família e amigos, todos a desprezavam. A jovem sabia que o torneio havia sido manipulado para que Jordarian fosse o vencedor, pois ela havia feito exames em seu próprio sangue e comprovado que havia substância da erva Dama do Sono. Ela suspeitava que por anos esse torneio estivesse sendo manipulado de forma que o novo Diamantyne fosse sempre da Tribo do Gelo. Mesmo não tendo o apreço do líder de sua tribo, Fharelyn conseguira convencê-lo de fazer uma convocação entre os líderes para investigar essa probabilidade. 
     O líder do gelo sabendo de que assunto se trataria na reunião não compareceu; quando os líderes da árvore e da mina se preparavam para conversar, uma comitiva de guerreiros da Tribo do Gelo adentra ao local da reunião e interrompe os líderes.
     _ Mas o que quer dizer isso? - Questionou o líder da mina colocando-se de pé irritado.
     _ Viemos em nome do Sr. Diamantyne buscá-los para uma audiência. - Disse um dos guerreiros.
     _ Mas não fomos comunicados de nada! - Interveio o líder da árvore. - Geralmente essas audiências nos são comunicadas com dias de antecedência!
     _ Não estamos aqui para discutir. Venha com a gente por bem ou os levaremos à força!
     Os líderes não discutiram mais, apenas seguiram os guerreiros até o Palácio de Cristal. Assim que chegaram, foram levados imediatamente à presença de Jordarian, que se assentava em seu Trono de Diamante.
     _ Senhores líderes! - Disse o rei colocando-se sobre seus pés. - Então vocês andam conspirando sobre minha vitória limpa no torneio! - Ele andava de um lado para o outro. - Como ousam se voltar contra o domínio do seu rei?
     Os líderes de joelhos e cabeça baixa diante do Sr. Diamantyne se entre olharam assustados com tal acusação. 
     _ Perdoe-me majestade. Mas não temos conhecimento de tal assunto. - Disse o líder da mina. - Reuníamos para discutir a provável sabotagem nos guerreiros de nossa tribo. Jamais acusaríamos o senhor de ter fraudado o torneio.
     _ Então vocês confessam que tramavam nas minhas costas?!
     _ Eu não disse isso! Eu disse...
     _ Calado! - Falou Jordarian interrompendo o líder da mina. - Para mim já chega! Vocês dois estão destituídos do cargo de líderes, e estão banidos do meio de suas tribos! - Ele olhou para os guerreiros que escoltavam os líderes. - Levem-nos até as celas do palácio, e amanhã de tarde coloquem a marca neles, para que todos saibam da exclusão!
     Ninguém questionou a decisão; nem mesmo os líderes, pois sabiam que não haveria jeito. A notícia se espalhou como pólvora no meio de todas as tribos, e uma revolta súbdita  tomou conta dos integrantes das tribos da árvore e da mina. Junto da exclusão dos líderes, rolava o boato da sabotagem do torneio; e tão rápido quanto a notícia da exclusão, foi a formação de uma revolta. As tribos que perderam seus líderes se reuniram e foram em massa diante do Trono de Diamante. Assim que chegaram nos portões do Palácio de Cristal, as duas tribos conseguiram atravessar depois de imobilizar os dois guerreiros do gelo que faziam a segurança. Eles foram avançando e dominando cada guerreiro do local. E quando ninguém esperava, o Sr. Diamantyne estava encurralado.
     _ Mas que ousadia é essa? - Jordarian disse furioso. - Vocês perderam a noção do que estão fazendo? Não sabem que o Sr. Diamantyne não deve ser questionado e muito menos ameaçado? - Ele encarava a multidão. - Qual de vocês fala pelos demais?
     _ Sou eu! - Disse Fharelyn colocando-se na frente da multidão.
     _ Então é você que está por trás dessa palhaçada toda?! - Ele deu uma risada irônica e se assentou em seu trono. - Não se conformou de ser derrotada e veio aqui choramingar?
     _ Não vim choramingar. Eu fiz um teste em meu sangue e tive a comprovação de que fui dopada. - Ela falava com muita atitude. - E viemos diante do rei para fazer o exame no guerreio da mina que disputou o torneio. Queremos mostrar ao Sr. Diamantyne que se o outro guerreiro também estiver com vestígios da erva Dama do Sono no sangue, fica comprovado que nós dois fomos dopados.
     _ E se isso for comprovado, vocês querem que eu faça o que? - Disse Jordarian estampando um sorriso irônico. - Que eu saia do trono? - Ele concluiu dando uma gargalhada.
     _ É justamente isso! - Dizia Fhatelyn enquanto colhia o sangue do guerreiro da mina. - se comprovado a sabotagem, exigimos um novo torneio!
     _ E quem vai me obrigar a aceitar tal coisa, se a lei não fala nada sobre isso?!
     _ Ou o rei sai por bem e disputa o torneio novamente com a gente ou será arrancado do trono à força por nós e ainda ficará impedido de participar do novo torneio.
     _ Não vou sair. E te condeno à exclusão por conspiração contra o Sr. Diamantyne.
     Todos no salão deram uma gargalhada. Olharam para Jordarian com desprezo e aguardaram Fharelyn concluir os testes no sangue do guerreio da mina. Em poucos minutos estava comprovado que eles forem dopados com a erva Dama do Sono. Um alvoroço se formou no salão do trono; a revolta era tanta que alguns dos membros das duas tribos correram em direção ao Sr. Diamantyne para agredi-lo, e só não o fizeram porque Fharelyn pediu a todos que se acalmassem. Por fim eles destronarem o atual Diamantyne, impedindo-o de disputar o novo torneio e colocando outro guerreiro do gelo em seu lugar. Em algumas horas um novo torneio fora organizado, e dessa vez todos acompanharam, e ninguém da tribo do gelo teve acesso aos aposentos dos participantes. Toda a alimentação e líquido que chegavam aos participantes era provado antes por alguém de suas respectivas tribos, e só depois os participantes se alimentavam. 
     Após algumas horas de batalha entre si, um vencedor surgiu, e dessa vez não era da tribo do gelo. 
     _ Venho anunciar a todos os presentes que temos um novo rei! - Disse Cristália avaliando as expressões dos membros presentes. - Com o total de sessenta pontos; sendo a maior nota já alcançada em todos os torneios e campeã invicta, temos Fharelyn como a nova Sra. Diamantyne. A Tribo da Árvore tem uma campeã!
     A comemoração foi geral. Os integrantes da Tribo da Mina comemoravam junto com os membros da Tribo da Árvore. Era notório a felicidade de todos em saber que a Tribo do Gelo fora desbancada. Ninguém quis esperar, exigiram que Fharelyn fosse entronizada imediatamente, e sem cerimônia alguma, a jovem guerreira se assentou no Trono de Diamante. 
     A guerreira parecia não acreditar no que estava acontecendo; agora ela era a maio autoridade de todo o mundo de Shadow; todas as suas vontades deveriam ser atendidas, pois de uma forma justa e honesta ela havia conquistado aquele  lugar. Fharelyn olhava para todos os presentes; que sorriam satisfeitos; e procurava por Salladriel; sua paixão; mas que não conseguia ver. Então quando desistira de procurar por ele, o jovem sai de trás de um grupo de integrantes da Tribo da Mina e se aproxima fazendo reverência.
     _ Majestade. - Ele disse fazendo uma leve inclinação de corpo e cabeça. - Gostaríamos de ouvir o vosso primeiro pronunciamento real. - Ele sorriu. - Queremos ouvir a primeira Sra. Diamantyne.
     _ Agradeço a todos pelo apoio e por me permitir desmascarar a farsa que esse torneio havia se tornado. Eu, como a Sra. Diamantyne, não olharei apenas para a minha tribo; como faziam os outros reis; mas agirei de forma justa para com todos. - ela colocara-se de pé. - Desta forma, coloco Salladriel como o capitão da Guarda Real, e permito que os melhores membros de cada tribo sejam membros da guarda que farão a proteção do palácio. Ordeno que sejam construídos com o dinheiro de impostos, centros de treinamento semelhantes aos da Tribo do Gelo, em cada tribo que ainda não tem um. E por último, ordeno que libertem os prisioneiros feitos por Jordarian, e reintegro-os novamente ao cargo de líderes de suas respectiva tribos.
     _ Perdoe-me a ousadia majestade. - Disse o líder do gelo se aproximando. - Mas o que devemos fazer quanto a Jordarian?
     _ Meu caro! - Disse Fharelyn sorrindo e encarando o líder. - Eu proíbo Jordarian de colocar os pés para fora da sua tribo. Ele está excluído da convivência com membros de outras tribos. Só lhe é permitido conviver com os membros da Tribo do Gelo.
     _ Mas minha senhora, isso é uma regra geral. - Continuou o líder. - Nenhum de nós pode conviver com membros de outras tribos.
     _ Não podiam! - Fharelyn pausou quando todos os presentes a olharam com uma expressão de surpresa. - Desde esse dia em diante, é permitido a convivência e confraternização entre integrantes de todas as tribos. O casamento com membros de tribos diferentes também é permitido, e a criança que nascer dessa união, será herdeira da tribo do pai. - Ela sorriu quando viu os líderes das Tribos da Árvore e Mina adentrarem ao salão e fazerem uma reverência de agradecimento. - E agora chega de decretos por enquanto. Vamos comemorar. Hoje o dia inteiro será de festividades.
     O povo gritava e saltava de alegria. Os decretos de Fharelyn eram justos e visavam o bem comum. Durante anos ela conquistou o coração de cada morador de Shadow; além de casar-se com Salladriel. Seu reinado foi o mais aceito, e muitos anos após a sua morte, ela ainda era lembrada por todos e servia como referência para os reis e rainhas que vieram em sua sucessão. Shadow se tornou um lugar melhor para todos, graças a Fharelyn, a primeira Sra. Diamantyne a se assentar no Trono de Diamante.


Fim!


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