Capítulo 01 - Nascido no Paraíso
Eu acabara de acordar, e não conseguia ver
nada, pois uma claridade extrema iluminava todo o ambiente; uma luz tão branca,
que me fazia piscar incessantemente. Essa luz me tocava; ela era quente e
transmitia muita paz. Eu podia ouvir
algo tocando no fundo, de forma harmônica e melódica; era o som de harpas; não
sei como eu podia identificar, eu simplesmente sabia o que era aquilo. No fundo
daquela claridade toda, e sobrepondo de forma soberana os sons das harpas, eu
ouvi alguém falar; não era uma simples voz; era forte, firme, alta e bem clara
como o som de trovão. Aquela voz vinha direto até mim e me penetrava como se me
cortasse.
_ Olá meu filho! -
Então a voz fez uma pausa tranquilizadora. - Eis que te darei o nome de Rafael.
_ Quem é você? -
Eu fui impulsionado a perguntar. Pois apesar daquela voz ser forte e cortante,
ela transmitia muito amor.
_ Sou o seu pai!
Se prepare, em breve você receberá a sua missão.
Assim que aquela
voz concluiu, a luz cessou, e então meus olhos começaram a acostumar com o
ambiente. O lugar que eu estava era simplesmente incrível. Eu estava em uma
pequena ilha suspensa no ar, ela era completamente feita de cristal, tão
límpido, que ao receber um feixe de luz, iluminava todo o ambiente. Eu não entendia
como eu sabia das coisas, mas eu simplesmente sabia. Eu cheguei à beirada dessa
ilha e olhei para baixo; confesso que não consegui ver nada, pois eu estava
muito distante do chão. Nesse momento senti um calor se aproximar pelas minhas
costas, e percebi o ambiente se iluminar novamente; nada comparado com a luz e
a sensação anterior; essa luz era um branco azulado, então eu me virei, e ela
se aproximou de mim, parou em minha frente, e como num piscar de olhos, a
claridade foi coberta por alguma coisa. Eram asas, a claridade foi abafada por
várias lindas, longas e enormes asas brancas; aquele ser em minha frente tinha
dois pares de asas, que cobriam todo o seu brilho.
_ Olá irmão
Rafael, meu nome é Daniel, e estou aqui para te entregar sua graça.
_ Graça? - Falei
confuso. - O que é isso e para que serve? - Eu pausei e antes que ele me
respondesse eu prossegui. - E aliás, o que é você?
_ Tenha paciência
irmão. - Ele sorriu alto. - Estou aqui para te explicar tudo sobre nós, este
lugar e a sua missão.
_ Então continue.
- Eu disse olhando para os pares de asas, pois eram as únicas coisas que eu
conseguia ver. - Porque você não me mostra seu rosto?
_ Rafael, eu sou
um anjo. Na verdade todos somos anjos. Temos classificações diferentes, mas
isso você aprenderá mais na frente. Agora quero te explicar o básico. - Ele
sorriu alto novamente. - Nós somos feitos da energia pura do nosso criador, o
nosso pai.
_ Qual o nome
dele? - Perguntei.
_ Ele tem muitos
nomes. Ele se chama de O Grande Eu Sou, nós chamamos de pai, e para o lugar que
você vai, Ele é muito conhecido pelo nome de Deus.
_ Então Deus,
nosso pai, me criou da energia pura Dele?
_ Sim! Basicamente
é isso. Essa energia que nos cria não tem forma, ela apenas irradia muita luz e
calor.
_ E porque eu não
brilho como você?
_ Porque você
ainda não recebeu sua graça. A graça é vinda de nosso pai. Ela é um favor dado
a nós, e essa graça é o que nos torna o que somos; anjos. - Ele se aproximou de
mim e me tocou. - Recebe a graça que vem do nosso pai para você.
Então um calor
sobrenatural me tomou por completo, e de mim começou a irradiar uma luz amarelo
ouro. Eu senti as minhas costas rasgarem, e delas surgiu um par de asas
brancas. Eu sem saber como fiz, por instinto, ajeitei minhas asas de forma que
elas cobriram todo o meu brilho.
_ Por que eu só
tenho duas asas, e você tem quatro?
_ Isso porque aqui
no paraíso existe uma hierarquia angelical. Quanto mais asas, maior é o posto
celestial.
_ E quantas asas
tem o anjo de maior posto?
_ Seis asas! - Ele
pausou. - Mas te confesso que os vi pouquíssimas vezes.
_ Por que? Eles
são raros de ver?
_ Sim! Essa classe
de anjo vive próximo do pai. Esses O veem constantemente. Têm esse privilégio,
que nem todos nós temos. São os anjos mais antigos, se não os primeiros que
foram criados. E acredito que não haja muito deles não, só conheço o nome de
três, e um deles fora banido por toda a eternidade.
_ E quais são os
nomes?
_ Lúcifer, Miguel
e Gabriel! - Ele pausou, se aproximou de mim e me tocou novamente, e como em um
piscar de olhos, toda a história sobre o banimento de Lúcifer passou a fazer
parte de mim.
_ Se o pai me
criou, para que eu existo?
_ Além de servi-lo
e adora-lo, você será um anjo guardião.
_ Guardião de que?
_ Não é de que, e
sim de quem. - Daniel sorriu alto. - Daqui algum tempo, você descerá à Terra e
cuidará da vida das criaturas do nosso pai; os seres humanos.
_ Quem são eles?
_ São seres
imperfeitos e mortais, mas que recebem a maior parte da atenção do nosso pai. -
Ele fez uma pausa, respirou fundo e prosseguiu. - Mas eles são privilegiados,
além de poderem escolher qual o caminho tomar de suas vidas, eles foram criados
exatamente iguais à imagem e semelhança do nosso pai.
_ Que honra a
deles.
_ Sim! Nós somos
criados para servi-lo e adora-lo, sem questionar ou hesitar, mas eles têm algo
poderoso que o pai chama de Livre Arbítrio. Essa palavra resume em fazer a
escolha que quiserem sem que o nosso pai interfira.
_ E o que eles
fizeram para merecer tanto do nosso pai?
_ Nada!
Simplesmente recebem a graça do nosso pai, de graça. Não precisam fazer nada. -
Ele abriu suas asas, e então sua luz irradiou o lugar. - Vamos descer até o solo,
venha conhecer o paraíso antes de você partir.
_ Espere! Eu gostaria de saber sobre a
hierarquia angelical. – Eu falei esperançoso.
_ Tudo bem, vou te explicar bem
rapidamente e de forma superficial. – Daniel respirou fundo e então prosseguiu.
- Somos divididos em nove tipos e em três classes diferentes. Na Primeira
Classe estão os superiores, sendo eles; Serafins, Querubins e Tronos. Depois
vem a Segunda Classe com as Dominações, Potências e Virtudes. Com exceção dos
Serafins que têm seis asas, todos que eu citei até agora têm quatro asas como
eu.
_ Você se enquadra em qual desses que
citou? - Eu perguntei curioso.
_ Bem, eu faço parte das Virtudes, que
tenho várias funções, mas que no momento é transmitir para os outros anjos
aquilo que deve ser feito. - Ele pausou esperando que eu perguntasse algo, mas
continuou quando percebeu que eu ficara em silêncio ouvindo. - Continuando. Por
último e não significando que sejam menos importantes que os outros, vêm a
Terceira Classe com os Principados, Arcanjos e Anjos, sendo que esses últimos
todos têm duas asas. - Ele respirou fundo e continuou. - Está entendido?
_ Sim. Estou satisfeito.
_ Então vamos. Siga-me! - Disse a Virtude
abrindo suas asas.
Daniel saltou da
ilha de cristal e desceu até o solo de forma suave. Eu abri minhas asas e com
um pouco de receio saltei, e como se eu fizesse aquilo há anos, eu voei até o
solo onde Daniel me esperava. Começamos a andar pelo lugar, que era
maravilhoso, com toda certeza era uma criação do nosso pai. Havia uma variedade
incomum de árvores frutíferas e não frutíferas espalhadas pelo local; animais
de várias espécies convivendo entre si de forma harmoniosa e em completa paz.
Um rio de águas cristalinas corria no meio do lugar, separando-o em dois lados.
Eu pude ver um tigre deitando na beira do rio e colocando uma de suas patas
dentro da água de forma lenta e preguiçosa; ele não tinha outra intenção que
não fosse apenas estar ali. Daniel e eu seguimos subindo rio acima até aonde
pude avistar uma cachoeira muito alta, onde a queda d'Água irradiava um arco
íris com cores tão fortes que pareciam estar vivas. Daniel me explicava tudo
sobre o lugar; ele me ensinava o nome dos bichos e de cada árvore e fruta.
Agora descíamos na direção oposta à cachoeira, e só paramos, quando chegamos a
um local em que o rio banhava uma ilha que continha duas grandes e frondosas
árvores. As duas eram frutíferas; uma fruta semelhante à maçã, mas ela tinha
uma coloração dourada; já a outra, seu fruto era diferente de todos os outros
tipos de frutas que havia ali, sendo assim impossível fazer uma comparação, e
não era só isso que era diferente das demais, pois suas folhas eram
cintilantes, como se na superfície de cada uma delas tivesse sido derramado pó
de diamante; ela emanava uma força vital incrível, algo que nem o próprio
Daniel tinha. Não bastasse essas árvores estarem separadas das outras e serem
diferenciadas, elas também eram protegidas por anjos guerreiros, armados com
espada que flamejava uma chama vermelho amarelada, foi esse fato que me fez
questionar Daniel.
_ Por que essas
árvores são diferentes, e são protegidas dessa maneira? - Eu me virei para ele.
- Quem são ele e a qual tipo de anjos eles pertencem?
_ Aquelas são as
árvores mais importantes do paraíso. - Daniel apontava para elas enquanto
falava. - A árvore que a fruta é semelhante à maçã é a árvore que contém O
Conhecimento do Bem e do Mal, já a outra é a Árvore da Vida. - Ele me explicava
tudo com muito orgulho. - Elas são protegidas por anjos de Segunda Classe; os
chamados Potências; e estão ali para que nenhum anjo ou animal ouse tocar nelas
novamente.
_ E quem tocou
nelas?
_ Uma das
criaturas do nosso pai há muito tempo atrás comeu do fruto de uma delas, e
então eles foram banidos do paraíso. Como não tenho tempo de te explicar, vou
te mostrar. - Daniel se aproximou de mim e me tocou, e semelhante à história de
Lúcifer, agora eu também sabia tudo sobre Adão e Eva. - Venha, tenho mais algumas
coisas para te mostrar, antes que você siga para cumprir a sua missão.
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